Em uma década, mais de 300 procedimentos foram realizados para tratar desde leucemias até doenças raras. Pacientes vieram de todas as regiões do país
O Serviço de Transplante de Medula Óssea (TMO) do maior hospital pediátrico do Brasil, o Pequeno Príncipe, com sede em Curitiba (PR), completa uma década de atendimento neste mês. Durante esse período foram mais de 300 vidas transformadas com a realização de procedimentos para tratar desde leucemias até doenças raras. A instituição filantrópica comemora ainda seu reconhecimento como referência nacional nessa área. “Nesse período, nos tornamos um dos maiores centros de transplante pediátrico da América Latina, principalmente na área de transplantes alogênicos [quando as células transplantadas vêm de outro doador]”, conta a médica-chefe do Serviço, Carmem Maria Sales Bonfim.
Mesmo com a pandemia do coronavírus, o Hospital realizou 61 transplantes em 2020. Um deles foi o de Henry, que nasceu com a mesma doença rara do irmão, a SCID (Imunodeficiência Combinada Grave), também conhecida como doença do menino da bolha. Como havia chances de ele ter o mesmo diagnóstico, sua mãe, Kelly Akemi Bueno, foi acompanhada durante toda a gravidez. A família foi integrada a um projeto do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe que investiga as doenças raras, e com 2 dias de vida o bebê foi diagnosticado. Dois meses depois, ele recebeu a medula óssea doada pelo pai e agora está curado. “O diagnóstico precoce, que foi possível por meio da pesquisa, e a excelência da equipe do TMO fizeram toda a diferença na vida do meu filho mais novo”, declara a mãe.
Nestes dez anos, 26% dos transplantes realizados foram em crianças com idade abaixo de 3 anos. O atendimento de crianças de pouca idade e com doenças raras é uma das especificidades que fizeram com que o Serviço de TMO do Pequeno Príncipe recebesse pacientes de todo o país – 61% dos atendimentos são de fora de Curitiba. O reconhecimento nacional também se deve aos procedimentos realizados com doadores haploidênticos – quando a compatibilidade não é de 100%, uma vez que encontrar um doador compatível é um dos grandes desafios para realizar um TMO. Mesmo dentro da família, as chances de conseguir um doador 100% compatível é de apenas 25%.
O Pequeno Príncipe conta com uma pessoa exclusivamente dedicada a essa busca. Ela pode identificar rapidamente as chances que um determinado paciente tem para encontrar um doador nos bancos nacionais ou internacionais. “Se esta chance for pequena ou a disponibilidade do doador não for imediata, temos experiência para prosseguir com outros tipos de doadores, como, por exemplo, os doadores haploidênticos identificados dentro da própria família”, explica a chefe do serviço
Essa era a condição de Maria Eduarda Fransozi, 13 anos, de Dionísio Cerqueira (SC). Seus pais mobilizaram aproximadamente 300 pessoas para se cadastrarem no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), mas ninguém completamente compatível foi localizado. A equipe médica do Pequeno Príncipe decidiu então realizar o transplante com a medula do pai de Duda – que era 50% compatível. “O procedimento em si foi muito tranquilo, e recebemos a melhor notícia de todas quando descobrimos que a medula tinha funcionado! Foi uma nova chance para nossa família”, diz Uilson Fransozi, o pai da adolescente que venceu a leucemia durante a pandemia.
Equipe multidisciplinar
O fato de ser um hospital que oferece 32 especialidades e dispõe de equipes multidisciplinares também é determinante para o sucesso do Serviço de TMO do Pequeno Príncipe. O atendimento é realizado por médicos com formação em transplante pediátrico, que recebem o suporte diário de profissionais de outras especialidades, como infectologistas, intensivistas, nefrologistas, cardiologistas, neurologistas, endocrinologistas, dermatologistas e hemoterapeuta. O trabalho é realizado em conjunto com uma equipe multidisciplinar, formada por psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, fisioterapeutas, dentistas e farmacêuticos. O serviço também atua em parceria com as unidades de terapia intensiva do Pequeno Príncipe, o Laboratório Genômico e o Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, por exemplo. Esse trabalho em equipe garante um atendimento de excelência e faz diferença no tratamento dos pacientes e nos resultados dos transplantes.
Planos futuros
O Serviço de TMO do Pequeno Príncipe iniciou sua história no Setor de Oncologia e foi implantado em abril de 2011, inicialmente com três leitos. Um sonho realizado em parceria com o médico Eurípides Ferreira. O hematologista foi pioneiro no Brasil ao realizar o transplante de medula óssea (TMO), nos anos 1970. Em 2016, o TMO foi ampliado, passando a ter dez leitos e proporcionando a um número maior de crianças e adolescentes um tratamento humanizado e de qualidade, referência no país. Em 2021, o objetivo é inaugurar mais dois leitos. “Com esta nova ampliação, acreditamos que poderemos transplantar mais dez pacientes por ano”, planeja a atual chefe do serviço.