‘Ninguém pode oferecer cuidados de saúde sozinho’ afirma ministra de saúde de Portugal durante Conahp 2020

Participando da palestra de abertura do Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp), nesta segunda-feira (16), Marta Temido compartilhou com o Brasil a importância do trabalho em conjunto para combater a pandemia

São Paulo, 16 de novembro de 2020 – Em meio à segunda onda de Covid-19 na Europa, com recordes diários de novos casos, a ministra da saúde de Portugal Marta Temido participou hoje do Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp). Na palestra de abertura do evento, que está sendo realizado de 16 a 20 de agosto, 100% online, gratuito e aberto a participação de todos os cidadãos, a ministra falou sobre as lições aprendidas na pandemia.

Segundo a ministra, foram muitos aprendizados, mas é possível destacar um dos mais importantes. “Ninguém pode oferecer cuidados de saúde trabalhando sozinho. As equipes têm que atuar de uma forma integrada, com cuidados primários, hospitalares e continuados, com outras vertentes e linhas de saúde, como o apoio psicológico, e também com outras áreas e setores, como o de Assistência Social, do Trabalho e da Economia, com as autarquias e com os municípios. Esse trabalho deve ser realizado de uma maneira próxima, a fim de identificar os problemas, buscar as soluções e oferecer as melhores respostas”, defende Marta Temido.

Com destaque mundial pela eficiência no controle da Covid-19, a ministra afirmou que o país está ainda mais preparado para enfrentar a segunda onda. “Temos mais equipamentos, leitos de UTI e continuamos a investir em recursos humanos. Na primeira onda, apenas um laboratório fazia o teste de Covid-19. Agora, 101 realizam o procedimento. Em março, fazíamos 2,5 mil testes por dia. Hoje, são 40 mil. Desde o início, apareceram testes novos, mais rápidos, e continuamos buscando outras possibilidades que o mercado oferece para identificar e tratar os casos”.

Não foram apenas os testes que avançaram durante a pandemia. Para controlar a disseminação da doença, as novidades no setor de saúde chegam de maneira rápida e constante. “O progresso que tivemos na saúde digital nos últimos meses foi maior do que o de todos os anos anteriores. Já tínhamos uma linha que atendia a um número importante de chamadas para as demais patologias, mas desde o início da pandemia, a quantidade aumentou. Além disso, o sistema se modernizou e passou a oferecer atendimento psicológico e social para surdos, interpretação de exames e diagnóstico e geração de um código que serve como atestado para justificar a ausência no trabalho”, conta Marta Temido.

Ainda assim, não há respostas para todas as dúvidas. “Só em um prazo maior poderemos ver o impacto de tudo o que está acontecendo na saúde física e mental, nas crianças que deixaram de ir à escola, na economia e na sociedade”, acredita Marta Temido.

 

Situação no Brasil

Após as declarações da ministra de Saúde de Portugal, houve um debate sobre as lições aprendidas com a Covid-19 com a participação de Henrique Neves, vice-presidente da Anahp e diretor geral do Hospital Israelita Albert Einstein, José Mauro Vieira Jr., presidente da Comissão Científica do Conahp 2020 e diretor do Instituto de Qualidade e Segurança do Hospital Sírio-Libanês e José Henrique Salvador, vice-presidente da Comissão Científica do Conahp 2020 e diretor de Operações da Rede Mater Dei de Saúde, mediado por Eduardo Amaro, presidente do conselho administrativo da Anahp e presidente do Hospital Santa Joana.

“A pandemia acelerou e quebrou barreiras relacionadas ao telesserviço e à telemedicina. Conseguimos implementar estratégias de prevenção e promoçãodependentes de integração, que permitem às instituições entregar propósito aos pacientes, com linhas de cuidados mais adequadas, e ajudar os elos da cadeia a reforçarem a importância do engajamento do indivíduo nos seus cuidados com a própria saúde”, conta Salvador

Para Vieira Jr., outro grande aprendizado da pandemia de Covid-19 foi a importância de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter um papel de coordenação das ações. Salvador acredita que o protagonismo da OMS precisa se estender para a prevenção de outras doenças que afetam o mundo todo, como as geradas por falta de saneamento básico adequado e a obesidade. “Uma instituição bem aparamentada poderia utilizar essas ferramentas para melhorar a saúde dos habitantes de todo o mundo”, finaliza.

Sobre uma segunda onda no Brasil, Neves revela que existem sinais discretos e localizados de aumento no número de casos de Covid-19 no município e na cidade de São Paulo. “A curva brasileira é diferente da europeia, mais longa, até pelas dimensões geográficas, mas nos hospitais das classes A e B de São Paulo foi observado um crescimento importante, incluindo no Albert Einstein”, revela.

Ainda de acordo com Neves, “o sistema de saúde brasileiro resistiu de forma satisfatória ao primeiro embate, mas há lições a serem aprendidas e é importante serem levadas em consideração, caso haja uma segunda fase. “É preciso ter clareza nos papéis dos sistemas de saúde público e privado. Sabemos que houve dissonâncias no início, Sofremos requisições de equipamentos e insumos hospitalares em um determinado momento da pandemia que não se justificam”, opina.

Segundo Vieira Jr., “sem o SUS, a situação no Brasil seria muito pior. Salvamos centenas de milhares de pacientes, graças aos hospitais de campanha e UPAS que conseguiram estabilizar os pacientes até que pudessem ir para o hospital”.

Compartilhe

Você também pode gostar: