Palestrantes abordam desafios para uma gestão mais eficaz e apontam desigualdade socioeconômica como um dos principais obstáculos para a melhoria do sistema de saúde pública e suplementar
Olhar para os problemas da saúde brasileira pressupõe o enfrentamento de questões estruturais, seja de falta de recursos, investimentos tecnológicos, formação de profissionais, padronização de sistemas e tantos outros.
Nesta quinta-feira (10), quarto dia de Conahp 2022, sendo o primeiro no formato presencial, em São Paulo, o tema foi abordado em debate com a participação do ex-ministro da Saúde Nelson Teich e Fernando Torelly, CEO do Hcor e conselheiro da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados). A mesa foi moderada pela CEO e fundadora do Laços Saúde, Martha Oliveira.
Segundo Teich, que atualmente integra a Rede Governança Brasil, contribuindo com estratégias para melhoria da governança em gestão para o SUS (Sistema Único de Saúde), o Brasil precisa de uma restruturação completa. “Pequenas mudanças não vão funcionar. O problema da saúde é que não podemos resolver por partes, temos que trabalhar sempre o todo.”
O ex-ministro realizou uma breve apresentação do cenário brasileiro, trazendo dados que demonstram evidente desigualdade entre municípios e, até mesmo, as diferenças entre macrorregiões do país.
Para Torelly, que também preside a Associação Voluntários da Saúde, as discrepâncias entre as diferentes realidades do Brasil impactam toda a sociedade. “Muitas vezes, nós chegamos a um hospital que tem a vontade de melhorar, de buscar aperfeiçoamento e melhorar a qualidade assistencial, por exemplo, mas não tem recursos para fazer isso. Muitas vezes, a desigualdade é tão grande que não nos permite fazer um diagnóstico para solucionar de fato o problema.”
Teich, por sua vez, reiterou que o foco deve estar na gestão. “Uma gestão eficaz permite a distribuição correta dos recursos de acordo com cada necessidade específica de uma região. Quando fazemos isso, estamos olhando corretamente para o problema como um todo, e não apenas para aquela parte que está na nossa frente.”
Os palestrantes identificam a importância desse olhar mais amplo para a saúde, levando em consideração recursos, infraestrutura, estratégias operacionais e acesso. “Temos indicadores que nos ajudam a avaliar a situação de forma isolada, considerando as particularidades socioeconômicas e geográficas para compreendermos as diferenças”, afirmou Teich.
Neste aspecto, Tornelly e Teich entendem que a inovação é fundamental, porém, é preciso observar de que forma ela chega aos hospitais. “A inovação do jeito que é feita hoje só aumenta a desigualdade. Se você tem um recurso limitado, você vai precisar escolher para onde vai esse dinheiro. E se o novo estiver caro demais, acabamos sacrificando o velho, que funcionava muito bem”, destacou o ex-ministro.
Entre as propostas apresentadas por ele para ampliar a conversa, sobretudo em um momento de transição de governos, estão a necessidade de ampliar o investimento coordenado e qualificar a gestão pública nos três níveis do governo em relação à regionalização, inclusive com o desenvolvimento de ferramentas institucionais.
“Temos, ainda, que identificar, discutir, definir os papeis e responsabilidades entre atores-chave das redes, engendrar esforços referentes à integração de dados nos sistemas nacionais de informação em saúde e realizar um estudo complementar para avaliação do impacto da saúde suplementar nas macrorregiões”, ressaltou Teich.
Torelly complementou que o problema perpassa governos. “Eu entendo que podemos fazer muito mais do que está sendo feito, e isso vai além das esferas públicas, inclui a todos nós”, finalizou ele, complementando: “A Covid-19 nos ensinou uma coisa: colaboração é fundamental. Precisamos de um grande movimento social para que a gente mude a realidade da saúde no país”.