Henrique Moraes Salvador Silva
Médico, presidente da Rede Mater Dei de Saúde
Não existem hospitais sem médicos. A relação harmoniosa entre esses profissionais e os demais da equipe de saúde é fundamental para que aqueles que necessitam de serviço médico-hospitalar sejam atendidos com qualidade e tenham uma adequada recuperação. Nós, que vivemos o dia a dia de um hospital, sabemos que a orientação médica nas prescrições e evoluções no prontuário do cliente internado é o ponto de partida para os processos envolvidos na assistência ao paciente, como o trabalho das equipes de enfermagem, serviço de nutrição e dietética, higienização, suprimentos, serviço de apoio ao diagnóstico, entre outros.
Apesar de a atuação do médico e a assistência hospitalar estarem interligadas, ao longo de décadas, os sistemas de gestão pouco evoluíram na integração de duas inteligências que há na vida da organização de saúde: a assistencial e a gestão empresarial. Talvez, pela nossa formação mista de médico e empresário/gestor hospitalar, sempre acreditamos que valeria a pena o investimento em tempo, energia e recursos para se criar um modelo de organização do corpo clínico em que os médicos estivessem comprometidos, que gerasse uma sinergia entre os diversos profissionais envolvidos no atendimento seguro e qualificado para os nossos pacientes.
O Hospital Mater Dei foi fundado em 1980 por José Salvador Silva e, entre os objetivos, estava o de ser uma casa que respeitasse a autonomia do corpo clínico, criando condições para que o profissional ético e competente pudesse internar os seus pacientes e exercer com dignidade a sua profissão.
Na década de 1990 e, marcadamente nos anos 2000, com o crescimento do setor privado e dos planos de saúde no Brasil, a relação entre médicos e hospitais precisou se modificar. Em 2001, foi fundada a Associação Nacional de Hospitais Privados – Anahp, entidade que reúne alguns dos principais hospitais privados do país e, durante 10 anos, fui diretor, vice-presidente e presidente, respectivamente. Nesse período, acumulando os cargos de diretor clínico e técnico do Mater Dei, tive a oportunidade de liderar um grupo de diretores médicos daqueles hospitais e colaborar na construção de um modelo de organização de corpo clínico que tem contribuído para a maneira como médicos e hospitais se relacionam hoje na sua prática.
Esse modelo inclui a necessidade de médicos lidarem com diretrizes, metas, indicadores, planos de ação e outros dispositivos que, em última análise, permitem que a performance clínica possa ser medida e monitorada, a fim de que desvios possam ser corrigidos e acertos reforçados positivamente. Sistemas dessa natureza permitem também que haja uma maior integração entre o médico com enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas e outros. Sem que o colega perca a sua autonomia e a capacidade de decidir o que de melhor houver em termos de recursos e técnica de tratamento do paciente.
Acreditamos que o acompanhamento sistemático das equipes de saúde, como realizamos no Mater Dei nas análises periódicas, com 24 clínicas, de indicadores e metas – que são comparados às referências mundiais –, aumenta a segurança e a qualidade da assistência, na media em que padronizamos aquilo que deve estar conforme.
Durante 27 anos tive a honra de ser o diretor clínico e técnico do Mater Dei e de ter liderado esse movimento na instituição ao lado dos coordenadores das especialidades médicas. Atualmente, esses cargos são exercidos pelos médicos Márcia Salvador Géo e Sandro Chaves que, tão bem, têm contribuído para a evolução desse sistema de gestão.
Em 18 de outubro do ano passado, comemoramos o Dia do Médico e os 10 anos da Acreditação Hospitalar do Hospital Mater Dei em nível de excelência com a apresentação dos resultados assistenciais pelos médicos coordenadores das equipes, envolvidos na prática desse modelo pioneiro para o nosso país. São resultados que refletem o trabalho de uma década. E a evolução da assistência de uma instituição hospitalar que elegeu como prioridade a missão de atender de maneira humanizada, diferenciada e personalizada, aliada à melhor evidencia técnica e, respeitando, os melhores princípios da segurança do paciente.
A mudança de cultura só foi possível porque os médicos se sentiram parte integrante dessa estratégia e agentes ativos na construção do modelo que é parte da nossa governança clínica. Com a inauguração da Unidade Contorno, que com a Unidade Santo Agostinho forma a Rede Mater Dei de Saúde, essa relação entre o Mater Dei e o corpo clínico está, a cada dia, mais fortalecida.
Hospitais e médicos nunca deixarão de existir. Acreditamos que quanto mais entrosados estiverem, respeitando as suas respectivas autonomias e a diversidade dos seres humanos, utilizando sistemas de aferição consagrados pelas ciências gerenciais, mais preparados estarão para apoiar e atender com carinho e qualidade àqueles que os procuram em momentos de fragilidade física e emocional.
Fonte: Rede Mater Dei de Saúde– 30.03.2015