Um a cada cinco brasileiros sofre com a doença, que só está atrás do cigarro em causa de mortes evitáveis no mundo.
Entre 2006 e 2018, a obesidade cresceu 67,8% no país, tornando-se uma epidemia e que pode nos levar a um patamar semelhante ao dos EUA, campeão em porcentagem de obesos (36% de sua população adulta), já nos próximos anos.
Os dados do Ministério da Saúde foram reforçados por estudo recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo que reúne os 36 países mais ricos do planeta. E o número de obesos no Brasil cresceu em um ritmo maior do que nas nações ricas. A proporção de obesos na população adulta brasileira pulou de 12,7% para 22,1%, em dez anos, enquanto a da OCDE está em 23,2%.
Além de ser um fator de risco para alguns tipos de câncer, hipertensão e diabetes, a obesidade poderá impactar em 5,5% do PIB nacional, entre 2020 e 2050, justamente devido aos gastos com essas doenças. A obesidade, porém, não pode ser associada a desleixo e falta de vontade, estigma frequentemente carregado por pacientes que sofrem com o excesso de peso. Por ser uma doença multifatorial, o tratamento deve considerar diversos aspectos, incluindo emocional e psicológico.
Reunir uma equipe multidisciplinar e centralizar a realização de exames para otimizar o atendimento aos pacientes é a proposta do novo Centro de Excelência em Cirurgia Bariátrica e Metabólica do Hospital Santa Catarina.
De acordo com o médico Victor Medeiros Fernandes, que está à frente da equipe, quase a metade dos pacientes elegíveis para a cirurgia bariátrica acabam desistindo quando os procedimentos pré-operatório demoram mais de seis meses.
“É importante que o paciente se sinta acolhido e respeitado. A pessoa que procura a cirurgia já tentou emagrecer de todas as formas. Comumente as vias metabólicas e de absorção de alimentos estão alteradas, dificultando bons resultados mesmo com dieta e atividade física. Uma espera longa, injustificada, no processo de liberação cirúrgica pode frustrar o paciente”, explica.
A proposta é que, no local, os exames clínicos e as avaliações médicas, psicológicas e nutricionais, obrigatórias para cirurgia, sejam feitas em menos de dois meses.
Além do atendimento humanizado e toda a estrutura do Santa Catarina, o espaço oferece aos pacientes mobília adaptada, cadeiras e macas mais largas, e uma moderna balança de bioimpedância, que mede as taxas de musculatura, gordura e água do corpo com agilidade.
De acordo com o médico, a cirurgia bariátrica é padronizada e segura, com taxa de complicação mínima. O Brasil é o segundo país do mundo em números absolutos deste tipo de procedimento, atrás apenas dos EUA. “No novo centro, pretendemos realizar 100 cirurgias por ano. A expectativa é ajudar o paciente a lutar contra a obesidade, permanecendo por muitos anos afastado dela e de suas comorbidades. Lembrando que a cirurgia não é a cura, e sim um auxílio na luta contra uma doença crônica”, alerta.
Para a nutricionista Thais Trujillo Sato, que integra a equipe, é importante conscientizar o paciente que ele viverá em dieta alimentar e precisará repor vitaminas provavelmente para o resto da vida. “Logo após a cirurgia, são 10 dias de dieta líquida e o paciente só poderá ingerir alimento sólido após 30 dias”.
O cuidado se estende ao pós-operatório. Os homens são acompanhados por um semestre e as mulheres por um ano, todos os meses, com testes clínicos, psicológicos e nutricionais, até receber alta.
A psicóloga Michelli Bernini Pedro lembra que entender o que leva o paciente a se alimentar é imprescindível. “Em alguns casos, há uma certa crise de identidade, já que a pessoa perde muito peso”.
Fonte: Monitor Mercantil
Data: 17/12/2019