Mais da metade da força de trabalho da saúde não se sentiu segura durante a pandemia, segundo pesquisa da Fiocruz

Luto, medo e insegurança fizeram parte da rotina desses profissionais.

A pandemia trouxe um tempo de aprendizado e consequências importantes para os profissionais do setor da Saúde. A palestra “A força de trabalho na saúde durante a pandemia: lições aprendidas” realizada no Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp), reuniu José Luiz Amaral, presidente da Associação Paulista de Medicina (APM), Maria Helena Machado, socióloga e pesquisadora da Fiocruz e Vania Rohsig, superintendente Assistencial e de Educação do Hospital Moinhos de Vento, que mostraram suas experiências durante esses 18 meses de pandemia. Quem mediou os palestrantes foi Luiz Cardoso, diretor de governança clínica do Hospital Sírio-Libanês.

“Durante esse período tivemos que nos reinventar, muitos fluxos, novos conhecimentos e de forma muito rápida, o que elevou muito as incertezas e inseguranças sobre o que fazer e quando fazer. Foi um momento ímpar e continua sendo”, conta Cardoso. De fato, a pressão sofrida pelos profissionais de saúde que tiveram que confrontar uma doença nova e pouco conhecida gerou muitos conflitos e uma exaustão na jornada de trabalho.

Dados de uma pesquisa que está em andamento e sendo conduzida com a participação de Maria Helena Machado, pesquisadora da Fiocruz, mostram que quase metade dos profissionais de saúde se sentiram sobrecarregados “Ouvimos mais de 15 mil pessoas das 14 categorias profissionais ligadas à saúde, em mais de 2200 municípios brasileiros. Trabalhar com a vida do outro já é um processo extenuante, mas durante a pandemia isso se intensificou muito”, ressalta a pesquisadora. Os dados ainda mostraram que 25% desses profissionais tiveram suas rotinas de sono alteradas, incapacidade de relaxar, insatisfação profissional, medo do futuro e até pensamentos suicidas em alguns casos.  “Mais da metade dessas pessoas não se sentiu segura para estarem na linha de frente nesse combate, isso acabou gerando medos e inseguranças”, diz Maria Helena.

Com o forte impacto da pandemia na saúde de seus colaboradores, o Hospital Moinhos de Vento criou um comitê para lidar com o luto não só de familiares e amigos de colaboradores, mas também para que os profissionais tivessem apoio para lidar com a quantidade de falecimentos de pacientes jovens. Vania Rohsig, superintendente Assistencial e de Educação da instituição, disse que na instituição “38% da força de trabalho se contaminou com Covid e nosso plano de saúde que cuidou de todos. Mas lidar com a perda de pacientes afetou muto as equipes, criamos um grupo de apoio que cuidou desse aspecto”,

Já José Luiz Amaral, presidente da Associação Paulista de Medicina (APM), ressalta que “devemos nos preparar melhor para qualquer tipo de desastre”. Segundo ele, um dos principais problemas no início da pandemia foi a falta de insumos, desde materiais de uso diário como máscaras e luvas, até medicamentos para sedação, por exemplo. “Éramos todos muito negacionistas sobre a possibilidade deste desastre acontecer conosco. Quando surgiu a doença em Wuhan, custou a termos a convicção de que isso estava acontecendo mesmo. Vimos vários países caindo na nossa frente e não nos preparamos para receber o vírus aqui. Precisamos levar essa lição e estarmos preparados para novos eventos dessa natureza”, adverte.

Serviço:

Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp 2021)
Tema: Saúde 2030: Desafios e Perspectivas
Data: 18 a 22 de outubro
Inscrições: https://conahp.org.br/2021/

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