O segundo encontro da Jornada Digital Anahp de abril – que está abordando formação, desenvolvimento e atuação das lideranças no setor de saúde – aconteceu nesta quinta-feira (10) e teve como tema “Saúde mental: capacitação das equipes para prevenção e cuidado”.
O encontro reuniu especialistas em gestão de pessoas, psicologia hospitalar e na assistência que destacaram como a escuta, o acolhimento e a estrutura organizacional são fatores decisivos para o cuidado com os profissionais. O debate reforçou ainda a importância da capacitação para manejo de pacientes com transtornos mentais em ambientes hospitalares.
Participaram do encontro:
- Gabriela Ladeira, médica psiquiatra e diretora técnica na Vila Verde Saúde Mental
- Silvia Cury Ismael, gerente de Saúde Mental no Hcor
- Patrícia Bader, gestora do Serviços de Psicologia da Rede D’Or São Luiz – Regional São Paulo
- Moderação: Evelyn Tiburzio, diretora técnica da Anahp
Veja os principais destaques:
O novo protagonismo da saúde mental
Por muitos anos, a saúde mental era invisível nas instituições de saúde — e a pandemia funcionou como um gatilho para mudanças culturais e estruturais. Esse movimento levou hospitais a criarem programas permanentes de cuidado, com profissionais dedicados e processos organizados.
NA PRÁTICA
Estruture programas formais de cuidado ligados à medicina ocupacional, com psicólogos, psiquiatras e fluxos definidos de acolhimento, encaminhamento, avaliação e acompanhamento. Treinar lideranças para identificar sinais de sofrimento é parte essencial dessa estratégia — como no programa Cuidar Hcor.

Comecei praticamente correndo atrás de apagar incêndio, com muitas pessoas adoecendo. Hoje, o cuidado virou parte da estrutura da instituição” – Silvia Cury Ismael
Escuta ativa e presença: a base do cuidado
Mais do que ações pontuais, a escuta ativa — entre pares, entre turnos e entre equipes — foi apontada como essencial para a construção de relações mais saudáveis e ambientes mais humanos. As falas revelaram que ouvir com atenção é, muitas vezes, o maior gesto de cuidado.
NA PRÁTICA
Fomente rotinas de escuta entre equipes, inclusive nas passagens de plantão, onde pequenas informações sobre o comportamento do paciente podem fazer diferença. Após eventos críticos, é fundamental oferecer acolhimento estruturado para os profissionais envolvidos — como acontece nas unidades da Vila Verde.

“Tem coisas que não estão no prontuário, mas fazem toda a diferença no cuidado. Como saber que o paciente só dorme se cobrir os pés. Esse tipo de escuta acontece na troca entre turnos, entre colegas, e é onde a saúde mental começa” – Gabriela Ladeira
Preparar o colaborador para lidar com pacientes
A saúde mental do colaborador também depende da segurança emocional durante a assistência. Situações de crise, delírio ou surto exigem preparo técnico e emocional para que o cuidado não se torne um fator de adoecimento.
NA PRÁTICA
Inclua nos treinamentos institucionais temas como manejo de crises psiquiátricas, sintomas e condutas seguras. Isso protege o profissional, evita confrontos desnecessários e qualifica a assistência.
“O colaborador precisa entender que não adianta tentar confrontar um paciente em surto.
Isso pode piorar a situação” – Gabriela Ladeira
Estrutura e protagonismo institucional
Cuidar da saúde mental não pode ser uma ação isolada da psicologia ou do RH. É necessário um compromisso institucional, com times dedicados, apoio da alta liderança e presença constante nos setores.
NA PRÁTICA
Designe profissionais para atuar exclusivamente no cuidado ao colaborador, fora da assistência direta. Na Rede D’Or, psicólogos técnicos visitam rotineiramente os setores e apoiam as lideranças no manejo de situações de sofrimento. Esse contato frequente permite antecipar crises e fortalecer a cultura de acolhimento.

“Hoje, as instituições de saúde trouxeram para a mesa executiva uma cadeira para pensar as questões de saúde mental” – Patrícia Bader
A NR1 e os riscos psicossociais no centro da gestão
A nova NR1, norma regulamentadora do Ministério do Trabalho, exige que as instituições de saúde mapeiem riscos psicossociais — como sobrecarga, insegurança e relações interpessoais de risco — e adotem medidas de prevenção.
NA PRÁTICA
Cruze dados de clima, rotatividade, uso de psicotrópicos e afastamentos para mapear os riscos psicossociais. A análise do ambiente organizacional deve orientar planos de ação preventivos com apoio do SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho), da psicologia organizacional e das lideranças assistenciais.
“A NR1 pergunta: sua instituição é promotora de saúde ou gera adoecimento?
Ela nos obriga a olhar para o ambiente” – Patrícia Bader
A performance como termômetro
Nem sempre o sofrimento psíquico aparece de forma explícita. Muitas vezes, se manifesta em queda de desempenho, afastamento dos colegas ou mudanças de comportamento.
“O maior indicador de sofrimento no trabalho é a queda de performance.
E quem mais percebe isso é o colega do lado” – Patrícia Bader
NA PRÁTICA
Capacite lideranças e colegas para identificar alterações de humor, sono, relacionamento e produtividade. Ter fluxos definidos de escuta e encaminhamento garante que os sinais não sejam ignorados ou tratados como problemas individuais.
Começar agora
Não é preciso esperar ter grandes estruturas para começar. O mais importante é dar o primeiro passo com clareza, responsabilidade e vontade de cuidar.
“Não existe a melhor estratégia.
Existe olhar para o que já se tem e melhorar a partir disso” – Patrícia Bader
NA PRÁTICA
Inicie com um diagnóstico institucional: quais ações já existem, quem são os responsáveis, quais canais estão disponíveis? A partir disso, é possível construir uma estratégia de cuidado com escala e intenção — respeitando os recursos e o momento de cada hospital.
O que dizem os especialistas?
Promover saúde mental nas instituições vai muito além de campanhas pontuais. Requer escuta ativa, preparo técnico, apoio da alta liderança e estrutura dedicada ao cuidado. As experiências do Hcor, da Vila Verde e da Rede D’Or comprovam que é possível criar ambientes mais humanos, seguros e acolhedores. E que a mudança começa — sempre — por quem cuida de quem cuida.
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