Novo comportamento do sistema e empoderamento do paciente são
as principais mudanças dos últimos anos
A primeira plenária do Conahp 2019 trouxe o tema central do evento: “Saúde baseada na entrega de valor: o papel do hospital como integrador do sistema”. A palestra foi apresentada pelo médico americano Donald (Don) Berwick, presidente emérito e membro sênior do Institute for Healthcare Improvement (IHI), e teve como moderador Paulo Chapchap, conselheiro da Anahp e CEO do Hospital Sírio-Libanês.
Para o palestrante, o desafio é conseguir melhorias na saúde em tempos de incertezas. Ele defendeu que a medicina encontra-se em nova fase. “A Era 1 foi fundada na base da confiança, o que até certo momento de nossa história era bom, mas o mundo começou a mudar, as pessoas passaram a questionar tudo, inclusive a medicina”. Segundo ele, institutos de medicina começaram a fazer relatórios e pesquisas de qualidade que indicaram a mudança dos tempos. “Em 1999 foi feita uma pesquisa que teve dados catastróficos, mostrou que os pacientes não estavam morrendo pela doença, mas pelo tratamento. Esse abismo de qualidade embora seja bem conhecido mundialmente acabou recebendo um pouco mais de atenção da imprensa a partir de 2018, por meio de relatórios que têm envergadura, como os da OMS (Organização Mundial de Saúde), que apontaram que existe uma enorme lacuna na qualidade do cuidado médico nos países”.
A Era 1 era baseada em confiança, prerrogativa, inquérito, orientação, pesquisa. Já a Era 2, tem como base: responsabilidade, escrutínio, mensuração, incentivo, dúvida. “Há um conflito entre os profissionais de saúde das duas eras, os que se acham heróis da Era 1 e os que passaram a prestar contas, da Era 2. O sistema funcionava bem, mas agora é outro momento”, disse.
Por isso, fazer o trabalho somente a partir do sistema de saúde já não é mais suficiente. “Há muito sendo feito fora, existe a importância da comunidade, o ambiente e as ações de prevenção”.
É preciso usar os recursos da saúde com valor. “Cada investimento usado no sistema de saúde é deixado de usar em outras áreas, é preciso aplicar com valor. Se todos trabalharem em prol do aperfeiçoamento do sistema, com mais qualidade de vida, poderemos ter um sistema hospitalar melhor”.
Para aprimorar qualquer prática, ele aponta se basear na Trilogia Juran, defendida pelo médico Joseph Juran: planejamento da qualidade, melhoria da qualidade e controle da qualidade. “O controle é poder consertar as coisas quando quebram. Como analogia, não precisamos cuidar do pneu somente quando está furado, podemos ir calibrando, cuidando. Para a melhoria em saúde é preciso muita pesquisa, muito recurso, e na inovação muito trabalho, que é o que vai levar a ser diferenciado”.
Don Berwick defendeu o trabalho realizado pela área de saúde em todo o mundo. “Estamos entregando algo muito importante para a sociedade, temos que de alguma maneira nos sentir orgulhosos pelo que somos. Cuidar de pacientes em um hospital tem que ser motivo de orgulho. O que pode nos fazer triste é que o tempo todo estamos prestando conta pelos números”.
Para evoluir, uma palavra de ordem é descomplicar. “Nos Estados Unidos se tem oito ortopedistas em um hospital, tem oito diferentes configurações de mesas de cirurgia. Temos que pensar em padronizar, para facilitar, ganhar agilidade e economia”.
Na nova era, vale mais ter um hospital vazio do que com todos os leitos ocupados. “Nosso trabalho é usar bem o dinheiro, é aproveitar o custo e não aumentar. A ideia é manter um hospital vazio, ter um leito vazio passa a ter mais valor do que cheio. Por isso são tão importantes os investimentos em prevenção, em tecnologia, telemedicina”. Ele exibiu um vídeo em que uma criança de nove anos fazia sozinha os procedimentos para aplicação de tratamento em casa. “O Youtube ensina, as pessoas estão empoderadas. Nos Estados Unidos estamos apostando na auto-hemodiálise, 70% dos pacientes aplicam o tratamento neles mesmos, fazem hemodiálise em casa. O Brasil está começando a implantar iniciativas colaborativas, 120 hospitais brasileiros estão começando a estudar essas ações”.
Segundo o palestrante, o momento é esse. “Esvaziar os hospitais tem uma série de objetivos: reduzir infecções, bactérias, e principalmente óbitos. É a melhor forma de economizar dinheiro, o melhor caminho que temos”.