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Hospital Monte Sinai disponibiliza primeira Plasmaférese terapêutica na região

A plasmaférese (ou plasmaferese) é o mais recente procedimento de alta complexidade disponibilizado na região pelo Monte Sinai. Apesar de ser uma prática consolidada há algumas décadas, a terapia, só estava disponível nos grandes centros urbanos. O novo procedimento está ligado ao recém-criado Serviço de Transplante de Medula Óssea (TMO) e Terapia Celular do Hospital.

Conciliando a disponibilidade do equipamento de aférese – adquirido para realização dos transplantes de medula óssea -, pessoal qualificado e a capacidade gerencial que organiza a logística para aquisição dos kits utilizados no tratamento, o projeto foi acelerado e se consolida após o atendimento bem sucedido do primeiro paciente, vítima da Síndrome de Guillain-Barré (SGB).

O que o serviço passa a disponibilizar, explica o hematologista Leandro Dutra Borges de Almeida é a plasmaférese terapêutica. “Trata-se de um procedimento semelhante a uma hemodiálise, mas que em vez de filtrar as impurezas do sangue e devolver o mesmo para o paciente – que é o que acontece nas diálises -, nas aféreses o sangue passa por um processo de centrifugação, onde os componentes são separados. Os glóbulos vermelhos são separados dos brancos, que são também separados das plaquetas e, tudo, separado do plasma. Na plasmaférese interessa retirar o plasma afetado por doenças que podem ser tratadas com a terapia”.

O procedimento

O princípio da plasmaférese consiste na retirada do plasma, para eliminar as substâncias nocivas causadoras de uma série de doenças. Sendo a porção líquida e acelular do sangue – uma vez separado dos glóbulos vermelhos, brancos e das plaquetas – no plasma ainda restam proteínas da coagulação, anticorpos (as imunoglobulinas), proteínas em geral, albumina, diversos açúcares, gorduras e hormônios.

Através da máquina de aférese, em sessões com duração e intervalos de acordo com protocolos cientificamente determinados para cada tipo de patologia, a plasmaférese necessita repor o plasma retirado com albumina humana (proteína primordial para manter a osmolaridade sanguínea) administrada com soro fisiológico, na maioria das patologias, ou plasma do banco de sangue em doenças bem específicas.

A plasmaférese é feita com o paciente internado, pois tem risco (controlado) de reações adversas como hipocalcemia, parestesias, alergia ao líquido de reposição, hipotensão, hipotermia, complicações na passagem do cateter, reação vaso vagal e a possibilidade de algum tipo de distúrbio hemorrágico, já que junto com o plasma se tira do organismo os fatores de coagulação e, até que o organismo os produza de novo, o paciente fica exposto. Mas em menos de 24 horas alguns já são recompostos e ele tem a coagulação restabelecida.

O procedimento exige que seja realizada a reposição do plasma retirado. As opções são o uso da albumina humana (proteína primordial para manter a osmolaridade sanguínea) administrada com soro fisiológico, ou plasma do banco de sangue. Há diferenças sutis quanto ao custo e benefício entre essas duas opções de líquido repositor (plasma ou albumina).

O primeiro caso

O primeiro paciente tratado com a terapia no Monte Sinai foi diagnosticado com a Síndrome de Guillain-Barré, uma doença autoimune que ocorre quando o sistema imunológico do corpo ataca parte do próprio sistema nervoso por engano. Há mais de um mês na fase mais grave da doença e sem resposta ao tratamento com medicamentos, foi realizada a plasmaférese. O resultado foi muito satisfatório. O paciente deixou os aparelhos nas primeiras sessões e, em uma semana, recebeu alta do Hospital.

A Síndrome Guillain-Barré é provocada por um auto-anticorpo que ataca a bainha que recobre as fibras nervosas (mielina) e estas perdem o poder de conduzir a eletricidade, o que afeta a musculatura em diversos graus. A doença se manifesta com sintomas de fraqueza muscular sem perda de sensibilidade, vai paralisando os membros inferiores, podendo ascender e rapidamente atingir os músculos respiratórios, necessitando internação em UTI com ventilação mecânica.

“O que fizemos foi acelerar a depuração do plasma e a eliminação do anticorpo errado que estava provocando a paralisia”, afirma o hematologista, pois como é uma doença autolimitada, o organismo eliminaria o componente provocador da doença por si mesmo, mas não se pode prever em quanto tempo esta reversão da doença aconteceria. “Uma grande prova de qualidade do hospital é conseguir manter o paciente vivo, às vezes por vários meses, até que aconteça a devida indicação para tratar a doença com a plasmaférese. Isso porque a internação em unidade intensiva por período prolongado amplia riscos como o de sepse, se ele fica em ventilação mecânica, escaras e outras consequências”, destaca Leandro de Almeida. Ele acrescenta ainda que, em geral, o medicamento é a primeira linha de ação apenas por causa do custo-benefício, mas o resultado é o mesmo da plasmaférese. Só que no caso do primeiro paciente do hospital, os remédios não obtiveram resposta.

O paciente realizou seis ciclos de plasmaférese em dias alternados e, na terceira ou quarta sessão, já respondeu à terapia deixando a ventilação e passando a respirar sozinho. Em 20 dias, ele estava livre dos sintomas e tem tudo para estar curado. Mas continua sendo assistido por neurologista, pois não se sabe o quanto foi afetado pela lesão nervosa. Ele permanece ainda com sequelas, que são potencialmente reversíveis, sendo que já ganhou movimentos novamente, pouco a pouco vai recuperando a força muscular e, posteriormente, pode recuperar toda a coordenação e movimentos finos de pega, de apreensão e escrita.

Indicações e alcance da aférese terapêutica

A plasmaférese tem uma grande variedade de indicações, mas são doenças de baixa incidência, a maioria síndromes raras. Ela pode ser indicada em caráter emergencial, para a Púrpura Trombocitopênica Trombótica (PTT) que provoca acidente vascular cerebral hemorrágico, ou em caso de rejeição de órgãos transplantados, especialmente o renal. Neste caso, a plasmaférese permite diminuir a produção do anticorpo do receptor que ataca o rim doado, até que haja a “pega”. Se o transplante é entre vivos e já se sabe que é um caso de incompatibilidade ABO, é possível planejar e tratar o receptor antes.

Outras indicações mais comuns, além da Síndrome Guillain-Barré, é a miastenia gravis, que controla a placa automotora. Há casos mais raros ou graves, como a hipercolesterolemia, especialmente a familiar, que depende da aquisição de uma coluna que vai fazer a filtragem para diminuir a taxa altíssima de colesterol. É indicada também para tratar macroglobulinemia de Waldenstrom, alguns casos de Lúpus, Síndrome de Goodpasture, granulomatose de Wegener, crioglobulinemia esclerose múltipla e algumas glomerulonefrites.

Como opção de terapia, os especialistas que mais se beneficiarão para tratar patologias em suas áreas serão os neurologistas, hematologistas, nefrologistas, reumatologistas, além de alguns oncologistas – se houver distúrbio autoimune associado, o que é raro.

Fonte: Hospital Monte Sinai – 07.07.2015

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