O médico deixa de ser o protagonista do atendimento e a experiência vivida pelo paciente ganha o foco
A vantagem de se trabalhar em equipe não é uma novidade na maioria dos setores de produção. Na saúde, não é diferente. Ao reunir o paciente, o corpo clínico e a alta gestão de uma instituição, comprometidos com o mesmo processo, o resultado é uma experiência com mais valor para os indivíduos. Com um modelo baseado em valor, o paciente ocupa o centro do cuidado de sua saúde, ganhando um papel de mais destaque.
A questão foi tratada durante o Conahp (Congresso Nacional de Hospitais Privados), que acontece até o dia 28 de novembro no Expo Transamérica, em São Paulo. O evento organizado pela Anahp (Associação Nacional dos Hospitais Privados) recebeu a palestra “A experiência do paciente na construção de valor: como engajar, medir e gerar resultado”, que reuniu especialistas para debater o tema com mediação do superintendente médico do Hospital Moinhos de Vento, Luiz Antônio Nasi.
Antes do debate, o sócio da consultoria global Korn Ferry, empresa especializada em implantação de estratégias de alta performance, Cristopher Rowe expôs as dificuldades de transição do atual modelo de gestão de saúde para o modelo baseado em valor.
“Antes de se começar qualquer jornada de mudança é preciso responder algumas perguntas como: o que você pode fazer como organização? Qual impacto é desejado? Quais suas perspectivas? Porque, quando pensamos em pacientes, as repostas variam de um indivíduo para outro, ou seja, não se deve pensar no valor como estratégia comercial, mas sim como a atividade chave para entrega ao paciente”, disse Rowe.
A diretora corporativa de qualidade e segurança do paciente do Hospital Santa Catarina, Camila Sardenberg, compartilha da opinião do especialista. “Os hospitais estão muito passivos, esperando o paciente chegar, quando na realidade deveríamos nos integrar a cadeia de serviços, pensando não só no episódio de cuidado, mas no que acontece com o paciente antes e depois desse atendimento. Pacientes mais graves ainda vão chegar de ambulância e helicóptero nos hospitais, mas a ideia é evitar, com cuidado primário, para vivermos a saúde e não a doença”, explica. Nesse sentido, Camila acredita que o cuidado tem que estar na casa do paciente, mas isso também traz desafios de qualidade e de segurança que ainda precisam ser resolvidos.
“O paciente de hoje tem mais informação e não aceita o modelo atual. Ele tem pressa em ser atendido, pressa em ir para casa, quer dizer, a pressa dele acompanha a velocidade do mundo. Mas todos envolvidos no processo têm que mudar suas mentalidades, não basta o médico sozinho. O engajamento só existirá se a experiência de todos for positiva”, ressaltou Naiara Porto, diretora de Novos Negócios do Hospital Anchieta.
De fato, esse é o ponto de convergência do debate que ainda contou com a participação de Álvaro Nonato, diretor do Hospital Aliança. “Alinhar os propósitos e colocar cada um em seu papel é necessário para que isso funcione. O médico é parte do processo, deixa de ser o centro, mas deve se ater ao paciente, deixando a burocracia do hospital para a administração, que também tem foco no paciente, mas cuida disso de outra forma”, explicou.
Para Rowe, as decisões chave devem focar no paciente, mas é impossível fazer isso sem engajar a equipe médica e todos os colaboradores de um hospital. “Não só isso, mas os pacientes devem compartilhar suas experiências de maneira sincera com seus médicos e esses relatos devem chegar até a direção da instituição, que mais do que qualquer indivíduo nesse processo deve estar andando de maneira muito próxima de tudo.”