Discussão sobre a sustentabilidade do setor de saúde diante da pandemia gera reflexões

Especialistas analisam os rumos do setor de saúde após o legado deixado pela crise sanitária, social e econômica trazida pela Covid-19.

A sustentabilidade do setor de saúde não diz respeito somente ao presente do setor, mas também sobre suas perspectivas de futuro. A palestra “A sustentabilidade do setor de saúde perante uma crise sanitária sem precedentes” reuniu especialistas do setor para tratar do impacto da pandemia de Covid-19 e o futuro da saúde no Brasil. Moderado por Erickson Blun Lima, diretor-presidente do Hospital Vera Cruz, o evento também contou com a participação de André Medici, economista social e da saúde, Jarbas Barbosa, vice-diretor-geral da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), e o presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Renato Casarotti.

Para tratar a questão, André Medice ressaltou que há que se analisar duas fases da pandemia, o período pré e pós-vacinação. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), antes das vacinas, os recursos foram alocados de forma majoritária no combate ao vírus. Naquele cenário, muitos serviços de prevenção e tratamento de doenças crônicas foram reduzidos e, em alguns casos, descontinuados. Dentre outros dados, 94% do staff que trabalhava em doenças crônicas foi realocado para combater a Covid-19. Sobre o período pós-vacinação, Medici afirma que houve a busca da sustentabilidade nos serviços de saúde, com o retorno da confiança da população em poder voltar sem medo a esses espaços.

Segundo Medici, foi possível notar uma redução sem precedentes no número de internações hospitalares em 2020 e, ainda hoje, a utilização ainda permanece abaixo dos níveis esperados. O economista analisa que “os efeitos econômicos da pandemia podem diminuir o número de pessoas que procuram serviços de saúde. Como foi visto em crises econômicas anteriores, algumas pessoas podem ter desistido dos cuidados devido a custos”. Além disso, Medici sugere que, no futuro, o uso da telemedicina e formas alternativas de prestar cuidados podem alterar a forma como as pessoas utilizam esses serviços.

“A pandemia não é só uma crise no setor de saúde, mas uma tríplice crise com impactos sociais e econômicos tremendos, além de políticos”, disse Jarbas Barbosa. O representante da OPAS afirma que, em todos os lugares atingidos pela pandemia, os mais pobres foram também os mais afetados e que mensagens conflitantes foram passadas por autoridades à população pela politização do assunto. Barbosa ressaltou a importância da superação do que chamou de acesso equitativo global, destacando a informação de que 24 países ainda estão abaixo de 40% da sua população vacinada.

A sustentabilidade como um todo, tanto do sistema público quanto privado, precisa passar por um debate aberto e racional sobre a alocação de recurso. Isso é o que defende Renato Casarotti, presidente da Abramge. Mesmo no setor privado, Renato analisa que há falta de um olhar sistêmico para diversas frentes, como pode ser visto na fragmentação da escolha por incorporação de tecnologias. Redefinir prioridades no setor privado de saúde é imperativo para a sustentabilidade do segmento: “estamos alocando recursos necessários em prevenção e tratamento de doenças crônicas, por exemplo?”, questiona Renato. Segundo ele, um dos aprendizados mais importantes da pandemia, é que o recurso alocado em prevenção sempre vai ser mais vantajoso do que o recurso aplicado no cuidado de alta complexidade.

Serviço:

Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp 2021)
Tema: Saúde 2030: Desafios e Perspectivas
Data: 18 a 22 de outubro
Inscrições: https://conahp.org.br/2021/

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