Crise nos hospitais privados foi tema de debate na Anahp

Especialistas do setor discutem soluções e estratégias para enfrentamento do momento mais desafiador dos últimos 30 anos

Diante de um desafio histórico para todo o setor da saúde suplementar, especialistas se reúnem para debater propostas e caminhos que visem o equilíbrio da sustentabilidade financeira dos hospitais. O encontro aconteceu nesta quinta-feira (1º de junho), abrindo a Jornada Digital da Anahp de junho, que visa discutir a necessidade dos hospitais brasileiros se reinventarem para sobreviver à crise do setor.

>> Assista ao debate “Anahp AO VIVO – Jornadas Digitais | Sustentabilidade financeira dos hospitais brasileiros em risco” na íntegra

Moderando a discussão, o diretor-executivo da Anahp, Antônio Britto, afirmou que a situação econômico-financeira do sistema de saúde e, em particular, dos hospitais brasileiros requer atenção e mudanças.

“Milhões de pessoas diariamente tem no hospital fonte de esperança de tratamento, cura e recuperação. E, para que possamos prestar assistência qualificada, adequada e digna, evidentemente precisamos de recursos humanos, mas também materiais. Recursos que permitam incorporação de tecnologia, contratação de bons profissionais e condições dignas de tratamento e assistência. Portanto, a crise não fica apenas dentro das paredes dos hospitais, ela é uma crise que deve preocupar a todos, pois todos dependem de um sistema hospitalar eficiente”, frisa.

Os participantes Henrique Neves, diretor geral do H. Israelita Albert Einstein; Fernando Torelly, CEO do Hcor e presidente da Assoc. Voluntários da Saúde; Leonardo Monteiro, diretor financeiro na Rede Primavera Saúde; e Breno Monteiro, presidente da CNSaúde, são unânimes ao afirmar que o cenário atual tem se mostrado o mais complexo dos últimos 35 anos, não havendo qualquer paralelo em relação à sustentabilidade do setor.

Para Neves, este é o momento de as instituições buscarem a reorganização de seus processos, com análises minuciosas de seus gastos e custos, para que sejam capazes de valorar adequadamente cada serviço, realizar a gestão do estoque de maneira estratégica para ampliar as oportunidades de negociação de compra, além de ter um olhar mais crítico sobre os investimentos a fim de otimizar o fluxo financeiro.

Segundo os especialistas, além do agravo da situação macroeconômica do país, o setor de saúde ainda se encontra em estágio de recuperação pós-pandemia. Leonardo Monteiro destaca que, apesar do represamento de cirurgias ter se diluído nos últimos meses, os hospitais enfrentam uma demanda diferente daquela anterior à Covid-19.

“O que acontece é que, hoje, os hospitais estão com um movimento diferenciado, que é fruto do período em que os pacientes deixaram de acompanhar seus quadros de saúde e realizar exames, portanto eles vêm aos hospitais hoje com quadros mais graves, requerendo um tratamento mais complexo”, detalha.

Outro fator que traz mudanças neste cenário diz respeito ao envelhecimento da população brasileira e suas consequentes demandas à saúde. Torelly lembra que, segundo dados do Observatório 2023 da Anahp, 40% dos pacientes internados entre os 121 hospitais associados tem idade acima de 60 anos.

“Considerando que este grupo etário triplique até 2060, de acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), nós precisamos nos preparar para uma mudança importante no modelo do cuidado e, consequentemente, da sustentabilidade do setor”, alerta.

Somado a esses fatores, conforme reforça Breno Monteiro, a questão do PL da Enfermagem, que não prevê fontes de custeio aos hospitais e a falta de políticas de incentivo às instituições de saúde como um todo, bem como a desigualdade salarial por conta das particularidades regionais contribuem sistematicamente para que essa conta não feche.

“Estamos falando da realidade de hospitais menores, cujo poder de negociação junto às operadoras já, há muito tempo, está em desequilíbrio, uma vez que não é feita a reposição da inflação. Não há possibilidade dessas instituições conseguirem se manter em pé sem cortes nas equipes e redução de leitos”, esclarece.

Dessa forma, os debatedores concordam que o enfrentamento deve se dar a partir de medidas sistemáticas e contínuas. Torelly reforça a importância de atuar com uma agenda interna de eficiência financeira. Obstáculos como o aumento das glosas e dos prazos para pagamentos precisam ser combatidos com olhar crítico sobre as operações internas da rede, sobretudo considerando falhas decorrentes de processos desatualizados, que geram mais desperdício e desequilíbrio financeiro.

Para ele, é fundamental, ainda, a verificação constante da necessidade de ajustes nas negociações de compra de insumos, bem como a padronização na cadeia de suprimentos, buscando parceiros de médio e longo prazo para melhores negociações de valores e pagamentos.

“O maior investimento do enfrentamento da crise é formar uma equipe executiva competente, permanente, buscando a consolidação do método de análise e estratégias da empresa”, frisa. E em relação ao futuro, Neves compartilha dos colegas um olhar otimista, para além da crise.

“Desde o processo de redemocratização do país, nós já enfrentamos inúmeras oscilações e desafios, o que nos mostra, no macro, que vamos ultrapassar este momento também. Temos que fazer a nossa parte e manter uma visão positiva, pois nós fazemos uma atividade que é indispensável para o funcionamento da sociedade”, finaliza Neves.

Assista abaixo o debate “Anahp AO VIVO – Jornadas Digitais | Sustentabilidade financeira dos hospitais brasileiros em risco” na íntegra

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