Entre os dias 06 e 07 de março de 2015, a Anahp promoveu o XIII Encontro de Líderes, evento que reúne as lideranças dos hospitais privados de excelência do país. O Encontro promovido no Royal Palm Plaza Resort, em Campinas (SP), reuniu mais de 150 participantes.
Durante os dois dias de evento, especialistas abordaram as perspectivas e desafios do cenário político e econômico brasileiro. O papel social do esporte também foi objeto de discussão durante o Encontro.
Em uma sessão especial, os participantes ainda tiveram a oportunidade de esclarecer dúvidas relacionadas à participação de capital estrangeiro no setor de saúde, medida recentemente aprovada pela Presidente Dilma.
Durante o Encontro de Líderes, os dirigentes dos hospitais associados participaram de uma dinâmica com o objetivo de identificar os principais temas que nortearão o planejamento estratégico da Anahp para o triênio 2015-2018.
Panorama político nacional: Caminhos possíveis e desafios
Inflação alta, queda de renda familiar, piora no mercado de trabalho e insegurança política. Estes foram alguns dos temas abordados pela Jornalista e Colunista do jornal ‘O Estado de São Paulo’, Eliane Cantanhêde, durante o XIII Encontro de Líderes Anahp. “Nós estamos em um país que está saindo de um período de recessão em 2014 e entrando em um novo período de recessão em 2015”, afirma a Jornalista.
Para Eliane, o cenário político brasileiro é grave. “A inflação na era Dilma sempre ficou acima da meta. Os juros alcançam a casa de 12,75% ao ano, as contas externas estão desajustadas e o superávit fiscal não foi atingido. Nós não estamos cuidando das nossas contas, do nosso ajuste fiscal”, comenta.
De acordo com a Colunista, a escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda foi um dos poucos acertos do Governo de Dilma. Eliane salientou, no entanto, que Levy tem um árduo desafio pela frente – o ajuste fiscal, que não depende apenas dele, mas dos Congressistas. “Levy é uma ilha de eficiência no Ministério da ineficiência. Toda a energia de mercado está centrada no Joaquim Levy. Se der tudo certo, lucro da Dilma, se não der, azar do Levy”, salienta.
A falta de traquejo político de Dilma e a perda de espaço do PT no Congresso também foram abordados por Eliane. “A presidente nunca foi senadora ou deputada, e tem uma visão do Congresso que se aproxima a de um leigo. Ela tem que entender que é mais complexo do que isso, que existe uma liderança no Congresso, e que ela não está se cercando de pessoas certas e, consequentemente, perdendo espaço no Governo”, comenta.
A queda no setor industrial e os impactos da operação Lava Jato para o país também foram pontos de atenção citados por Eliane. “O PIB só não foi pior porque a agricultura segurou as pontas. Há necessidade de mudanças nas regras trabalhistas e previdenciárias, mas o PT não vai bater de frente com a Central Única dos Trabalhadores (CUT). A situação no Congresso está muito difícil, o desgaste da Dilma é visível. Além disso, ainda nos deparamos com o caso da Petrobras, que é uma simbologia para o país”, explica.
Apesar do cenário desfavorável, a Jornalista não acredita na possibilidade de impeachment, como houve no Governo Collor. “Vivemos um momento de muita tensão, mas eu não acredito num impeachment. Observamos um Governo fraco, de vai e vem, mas a Dilma vai sim cumprir o mandato dela. Hoje, a população está muito mais informada, o Lula é uma força política grande e a Dilma não é uma pessoa mal intencionada. Se acontecer um impeachment, o PT vai para a rua, a CUT vai para a rua e o país entra em uma verdadeira guerra”, diz.
Para Eliane, a possibilidade de um Governo de Coalizão também é remota. “Eu não acredito num Governo de Coalizão, mas acredito sim que os líderes comecem a conversar”, comenta.
Esporte e responsabilidade social
O Encontro de Líderes também contou com a participação especial do Secretário da Confederação Paulista de Futebol, Walter Feldman, abordando o esporte como ferramenta para o desenvolvimento humano, educação e transformação social. Para surpresa dos participantes, o ex-jogador da seleção brasileira de futebol e campeão da copa de 1994, Mauro Silva, abrilhantou o evento com a sua presença.
Walter compartilhou experiências relacionadas ao esporte como meio para o desenvolvimento de jovens atletas. “O nosso objetivo é democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte, de forma a promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens, como fator de formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida, prioritariamente em áreas de vulnerabilidade social”, explica.
O Secretário da CBF apresentou o projeto Clube Escola, da Secretaria de Esporte, Cultura e Lazer da Prefeitura de São Paulo. “As crianças que participam do projeto permanecem na escola em tempo integral, com um programa educacional qualificado e são acompanhadas de perto”, compartilha.
A experiência da Alemanha na construção de um novo modelo de futebol também foi citada por Walter como um exemplo a ser seguido. “Eles envolveram o Governo, o setor privado, patrocinadores, entre outros. Esperamos que no Brasil também seja possível uma iniciativa com essa magnitude”, comenta.
A falta de tecnologia e gestão dos clubes brasileiros de futebol foram pontos levantados por Walter e Mauro Silva. “Há uma grande deficiência dos técnicos e preparadores físicos da estrutura de base dos clubes. Temos uma geração de técnicos defasados e o modelo de gestão desses clubes não são efetivos. Precisamos trazer para o nosso futebol elementos da ciência e da tecnologia”, afirma Walter.
“No Brasil, os nossos governantes ainda não têm a dimensão do poder do esporte. Precisamos de metas de continuidade e planejamento para alcançarmos os nossos objetivos”, explica Mauro Silva.
De acordo com Walter, no Brasil, mais de 76% da população torce pelo futebol. “Este resultado é fundamental para trabalharmos de diferentes maneiras. Precisamos pensar um programa que envolva esporte, educação, cultura e lazer, passando pela profissionalização, até formarmos profissionais”, compartilha.
Para finalizar a palestra, o Secretário da Confederação Paulista de Futebol lançou um desafio aos hospitais associados à Anahp. “A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vem assumindo grandes responsabilidades. A Anahp e a CBF não poderiam pensar juntas em uma iniciativa de responsabilidade social, por meio do esporte, assim como foi feito na Alemanha?”, indaga.
Sessão especial
Atualização | Capital estrangeiro: Estamos prontos?
Diferentes abordagens
Desde que os investimentos estrangeiros nos serviços de saúde foram autorizados pelo Governo, inúmeras dúvidas têm rondado os gestores dos principais hospitais do Brasil. Para esclarecer algumas delas, o XIII Encontro de Líderes Anahp organizou a sessão especial “Capital estrangeiro: estamos prontos?”, painel em que especialistas discorreram sobre aspectos legais e os impactos dessa novidade para a saúde.
Marcos Aurélio Faccioli, Diretor Executivo de Finanças Corporativas do Banco Santander ressaltou que os hospitais devem estar atentos às mudanças e preparados para o assédio de investidores. “Há alternativas como a abertura de capital, o private equity, a venda total dos ativos ou parceria com estratégico internacional. Para ajudar na definição da melhor estratégia, o hospital deve se perguntar: o que busco para a minha empresa? O que preciso fazer para chegar lá?”.
Segundo Marcos, a Governança Corporativa é essencial para o sucesso da negociação, mas não o único fator. “No processo de venda há a fase de preparação da lista de informações, avaliação do ativo, análise da oferta indicativa, diligência dos auditores, entre outras. São muitos detalhes e qualquer deslize pode colocar em risco a confiança no negócio. Devido à complexidade deste tipo de operação é recomendável contar com um assessor financeiro”, disse.
Marcos concluiu com um alerta. “A nova lei não é apenas uma oportunidade para os hospitais, é também uma ameaça à existência de seus negócios”.
Luiz Leonardo Cantidiano e Roberto Liesegang, Sócios do Escritório Motta, Fernandes Rocha Advogados abordaram os aspectos legais de um possível investimento estrangeiro no setor saúde. “É muito comum a necessidade de reorganização na estrutura societária ou a separação de determinados bens ou áreas da empresa que não estão contabilizados no negócio por não interessarem ao investidor ou ao negociante. Antever esse tipo de necessidade pode ser decisivo para a conclusão do negócio”, afirma Leonardo.
Segundo Roberto, outro caso distinto são os hospitais filantrópicos imunes do imposto sobre a renda, que não querem perder este benefício ou que se veem diante de um conflito entre sua missão existencial e o lucro. “Toda entidade sem fins lucrativos depende de alguma atividade que subsidie suas atividades. A nova lei apresenta uma grande oportunidade para a criação de uma condição financeira que traga conforto para este tipo de hospital. Se a instituição oferece, por exemplo, cursos profissionalizantes, pode desmembrar esse setor de seu negócio, criar uma empresa independente que use o nome do hospital e receber investimentos”, relata.
Conjuntura Econômica
O cenário político desfavorável reflete na economia brasileira. “Vivemos, sobretudo, uma crise de confiança, com incertezas constantes”, afirma a Economista Denise de Pasqual, da Tendências Consultoria Integrada.
De acordo com a Consultora, observamos no cenário internacional a normalização da política nos Estados Unidos, desaceleração do crescimento da economia da China, na casa dos 6,9% em 2015, e dificuldades de recuperação da Zona do Euro. “Esses fatores definem o ritmo de crescimento da economia mundial”, explica.
Assim como Eliane Cantanhêde, a Economista defende a escolha do Ministro da Fazenda como a melhor opção para o Governo. “A escolha do Levy foi positiva e as medidas divulgadas até agora estão na direção certa, com uma nova política econômica que contempla o aumento da carga tributária, reforma previdenciária, restrições ao uso do seguro desemprego, redução dos subsídios dos bancos públicos, redução dos subsídios do setor elétrico e reversão da desoneração da folha de pagamento”, comenta.
Os efeitos negativos da operação Lava Jato para a economia do país também foram pontos de atenção citados por Denise. “O Brasil perdeu ritmo econômico nos últimos anos, a média de crescimento entre 2011 e 2014 ficará em apenas 1,5%, com leve retração em 2014. Os impactos da operação Lava Jato sobre os investimentos também devem levar o PIB para o campo negativo. Além disso, ainda há os efeitos do racionamento de água e possibilidade de racionamento de energia”, comenta.
De acordo com a Economista, a produção industrial recuou 3,2% em 2014 e a projeção para 2015 é de recuo adicional de 2,8%. “A alta de custos nos últimos anos, sobretudo relacionado à mão de obra, não compensada por ganhos de produtividade, tirou a competitividade do setor”, explica.
“A taxa de desemprego apresentou tendência de queda nos últimos anos, apesar da baixa geração de empregos. Esse comportamento atípico da força de trabalho pode ter influenciado essa sensação de baixa taxa de desemprego. Em 2015, a tendência é de continuidade na retração do emprego, o que deve fazer a taxa de desemprego subir significativamente”, completa Denise.
Para 2015, a expectativa é de inflação ainda mais pressionada, com concentração de reajustes, especialmente para o setor de energia elétrica (46%). O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ficar acima dos 7%. “O Brasil tem um grande problema de produtividade, baixa educação, impostos, carga tributária, por isso a nossa produtividade tem crescido muito pouco”, finaliza.
Hot Wire Session
O Encontro de Líderes deste ano apresentou novidades para os participantes e parceiros Diamond (White Martins, Sanofi, Sodexo, 3M e Medtronic): O Hot Wire Session.
Durante os dois dias de evento, em rápidas sessões de cinco minutos, líderes e parceiros tiveram a oportunidade de conversar sobre demandas, expectativas e possibilidades de negócios.
A dinâmica teve como objetivo principal aproximar de forma mais eficiente os dirigentes e os parceiros Diamond durante o Encontro de Líderes. A iniciativa proporcionou oportunidades para benchmarking e novos negócios.