Para ajudar nossos associados e demais profissionais da saúde, a Anahp reúne artigos de diversos representantes do setor, com a finalidade de mostrarmos diferentes perspectivas do impacto da Covid-19.
Adolfo Corujo*, sócio e chief strategy and innovation officer da LLYC em Madri (Espanha)
A primeira crise não foi de saúde
Com as primeiras notícias da situação em Wuhan, na China, entendíamos que se tratava de um problema de saúde distante e de baixo risco. À medida que os casos e mortes começaram a aumentar, gerou-se certa preocupação. Mas quando, em apenas 24-48 horas, a Itália passou de alguns casos para rapidamente ter uma cidade como Milão como uma espécie de marco zero, a Europa acordou.
A coisa mais curiosa sobre esse despertar, apressado pelo medo, foi ver que, embora a taxa de progressão da doença fosse alta, mas ainda em níveis aceitáveis, a ansiedade social e corporativa disparou ainda mais rapidamente. Antes da crise de saúde, chegaram as crises sociais, midiáticas, políticas, corporativas e econômicas.
A mídia e os medos
O papel que a mídia está desempenhando em toda essa situação é ao mesmo tempo necessário e perverso: no momento em que é preciso dispor de informação gerida profissionalmente e atender a uma demanda constante por notícias, é quando os próprios veículos de comunicação respondem com um excesso de oferta de informação urgente e, involuntariamente, tornam-se alto-falantes do medo.
Com a retransmissão minuto a minuto de cada novo caso, morte, notícias dos serviços de saúde e de celebridades que confirmam seu contágio etc., é impossível não gerar um estado de preocupação social.
O pânico corre a galopes
Se a propagação da doença levou semanas para deixar a China e, em seguida, alcançar os países vizinhos, e praticamente um mês para chegar à Europa, a propagação do pânico levou apenas algumas horas para dominar toda a Europa.
Passamos semanas analisando o problema na China com indolência despreocupada e, de um dia para o outro, começamos a ver: protocolos de ação, estoques, videoconferências de coordenação, queda de vendas, correção de projeções econômicas, planos de contingência urgentes… Realmente tivemos semanas para evitar e antecipar a crise, estávamos vendo acontecer e, quando de fato a percebemos, uma debandada da realidade dramática passou por nós.
A importância de achatar a curva
Com a passagem da fase de contenção para a fase de mitigação, na Itália e na Espanha, entendeu-se que os esforços deveriam se concentrar em escalonar e atrasar, na medida do possível, o número de positivos e seu tratamento, para não colapsar os sistemas de saúde.
Foi um momento decisivo na comunicação pública e na aceitação por toda a sociedade do papel que cada um de nós poderia desempenhar. Essa estratégia, explicada com transparência, conseguiu fazer com que a população entendesse as decisões mais extremas, o confinamento e a paralisação da atividade em todos os setores, exceto aqueles considerados essenciais.
O valor da informação
A experiência da Europa nos mostra que somente por meio de porta-vozes autorizados e com uma comunicação transparente, confiável, checada e bem explicada, é possível transmitir as informações pertinentes necessárias a todo momento para gerenciar a ansiedade social.
Da mesma forma, a ansiedade corporativa se manifesta pela quantidade de más notícias nos negócios: teletrabalho, demissões, encerramento de atividades, repercussões legais, cancelamento de acontecimentos e eventos e o impacto que repercute em setores inteiros. O impacto real deste desastre no tecido produtivo de cada país ainda é incalculável, mas o certo é que aqueles que têm mais visão do que seus concorrentes, aqueles que se anteciparam e se prepararam, sem dúvida não terão apenas mais chances de sobreviver, eles terão sido mais cívicos com seus concidadãos.
A comunicação é a chave
Em todas as áreas, mas especialmente na corporativa, o gerenciamento adequado da comunicação é fundamental nesta situação: primeiro proteger e orientar funcionários e colaboradores, e antecipar e preparar cada um dos cenários de risco que a empresa enfrenta com relação a cada um de seus stakeholders é essencial em um cenário em que, além da vida das pessoas, esteja em jogo a economia do país.
No Brasil, temos a oportunidade de aprender com a experiência, primeiro asiática e depois europeia, e agir com responsabilidade em todas as áreas de atuação: nos antecipando para não sermos surpreendidos com o que, na verdade, não seria mais uma surpresa. Ou vamos também ficarmos parados esperando a onda chegar?
*Adolfo Corujo é sócio e chief strategy and innovation officer da LLYC em Madri (Espanha), empresa de consultoria de comunicação.
Os artigos publicados não traduzem a opinião da Anahp. A iniciativa tem o objetivo de trazer a perspectiva de diversos elos do setor de saúde, em um momento em que informação é a base para o enfrentamento à nova pandemia.
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