A jabuticaba da vez

Einstein dizia: “a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”. O mais fascinante sobre esse pensamento é que não há limites para a expansão do conhecimento e o desejo de progredir. E nós precisamos dar saltos.

Tenho a sensação de que a terceira edição do Conahp (Congresso Nacional de Hospitais Privados), que ocorreu poucas semanas atrás, alargou o caminho para as transições que perseguimos na Saúde. A pergunta serviu de combustível: “como deveríamos pagar pela atenção à saúde?”.

Quando todos esperavam que Robert Kaplan, professor da Fundação Baker, na Harvard Business School (HBS) e principal palestrante, trouxesse o DRG (Diagnosis Related Groups, ou Grupos de Diagnósticos Relacionados) para o centro da conversa, ele passou direto pelo assunto. Respondeu ao questionamento com uma perspectiva diferente, focando a análise no bundled payment, o pagamento combinado, metodologia já implementada em algumas instituições norte-americanas.

Não me refiro aqui ao modelo como há tempos o conhecemos, e que no passado se parecia bastante com o nosso deficiente sistema de cobrança por pacotes. Como Kaplan explicou, o bundle evoluiu, incorporando toda a linha de cuidados do paciente – consulta, atendimento, cirurgia, internação e reabilitação – e também o risco inerente a cada evento. Pontos onde justamente existiam os gargalos. E se não há uma metodologia à prova de erros, esta é a que, pelo menos, parece mais se aproximar desse ideal.

Por que, afinal, Kaplan sequer mencionou o DRG? O fato é que, nos Estados Unidos, a metodologia se mostrou mais adequada para padronizar procedimentos do que remunerar os serviços de saúde. Então, você me pergunta: quer dizer que todos os debates que instigamos sobre os Grupos de Diagnósticos Relacionados foram tempo perdido?

De jeito algum. Ele continua um modelo a ser analisado, mas nitidamente se presta mais a ferramenta de gestão, e menos de remuneração. Outra consideração que devemos fazer é: as nossas instituições se mostram mais aptas a adotar os bundles. Estamos realizando um projeto piloto centrado no DRG e chegamos à conclusão de que, antes de três anos de preparo, a implementação desse sistema, da forma correta, seria impraticável. E, para fazer o DRG “jabuticaba”, é melhor nem começar. Como reza a nossa tradição, “se só existe no Brasil e não é jabuticaba, é bobagem”. Além do mais, reinventar a roda significa, muitas vezes, correr o risco de ela sair quadrada.

Também nessa edição do Conahp, criamos a oportunidade de trazer para as discussões outros stakeholders, até então, muitas vezes, alijados dos debates. Foi o caso de nossos parceiros empresariais, principalmente nossos provedores de equipamentos, serviços, materiais e medicamentos, que, ao estarem no ambiente físico das conversas, participaram intensamente do evento. Assim, nos ajudaram a tecer uma perspectiva mais completa sobre as soluções para os nossos problemas comuns.

Pode não haver ineditismo em boa parte das perguntas que nos fazemos como agentes do setor. Mas as vozes crescem, se diversificam e se complementam. E é assim que daremos saltos para um setor de Saúde perene, sustentável e mais focado no paciente.

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