A doença da Saúde

Ao que tudo indica, desabamos sobre o gélido e paralisante fundo do poço: na Saúde pública, a seca do financiamento e dos modelos de gestão e assistência debilitam o sistema; enquanto, no setor privado, o desemprego prejudica a sustentabilidade econômica das operações. Como resultado da frágil rede de proteção social e da diminuição do acesso à medicina privada, o SUS inflama, arrastando-se sobre verbas contingenciadas e uma estrutura gerencial em estágio de falência.

No redemoinho social, econômico e político brasileiro, que empurra todos nós para o precipício, a disseminação de grandes patologias infectocontagiosas adicionam uma problemática, levando as pessoas a um estado ora de imobilidade, ora de insensatez ou até de delírio absoluto.

A Saúde adoeceu. E há pelo menos três grandes focos de atenção que irão sentenciar a nossa capacidade de recuperá-la e de inverter o nosso destino.

O primeiro pilar, goste ou não desse pensamento, é o crescimento econômico. O Brasil investe 9,5% do PIB em Saúde –  4,3% desse montante provém da esfera pública; os outros 5,2%, do setor privado. O que, comparado ao investimento de países desenvolvidos, revela-se insuficiente: nessas nações, somente o governo destina de 9% a 10% do PIB ao setor, sem contar os recursos privados. Mais algumas contas e você descobrirá que o investimento público per capita na Saúde, em nosso País, gira em torno de 1250 reais ao ano, o que representa pouco mais de 100 reais por pessoa ao mês. E é assim que a saúde do brasileiro sobrevive.

Perceba: saúde não tem preço – mas tem custo. Se não empurrarmos a roda econômica, não há salvação.

O segundo ponto de discussão remete à ideia de que o investimento em Saúde não se resume ao dinheiro aplicado especificamente na área; ele compreende um conjunto de esforços que a sociedade deve fazer em diversas frentes associadas a bem estar – saneamento básico, moradia, alimentação, lazer, educação.

Gosto de pensar que saúde não é só direito, mas dever do cidadão. Porque, se ele não se engajar na defesa de seus interesses, cobrando organização e resultados de seus representantes no governo, a responsabilidade será inteiramente delegada a um Estado que, por mais que diga o contrário, não possui uma visão madura sobre desenvolvimento social.

Há coisas que precisam ser ditas até que se tornem ação e modifiquem os contornos da realidade. E a terceira razão do padecimento da Saúde no Brasil é que somos um dos poucos países no mundo onde os cargos políticos que importam, estratégicos para o funcionamento do sistema, são negociados. Essas pessoas se comportam como querem, como que disfarçando a ditadura de democracia, e esquecem que o mandato que exercem pertence ao povo.

Quando os governantes renunciam ao compromisso de fazer o bom, o correto e o adequado, criando constrangimentos para a sociedade, isso significa que o mandato perdeu significado para o povo. Demonstra que a confiança foi extinta. Só que os detentores do poder (aqueles que nos servem como cidadãos) ignoram que manter suas posições fará a ruína das conquistas sociais que tivemos, inclusive na própria Saúde.

E se todos forem defenestrados? E se nos restar apenas vazio e destruição?

Bem, assim como ao final de uma grande guerra mundial, nasce o desejo de regeneração, dentro de um ambiente favorável a isso. Podem até sobrar dúvidas e polaridades, mas as diferenças, nesse novo contexto, tornam-se impulsionadoras da reconstrução e do aprimoramento. Essa é a cura para a nossa Saúde.

Compartilhe

Você também pode gostar: