Este conteúdo é de autoria de um hospital associado à Anahp

A.C.Camargo integra Consórcio Global que mapeia os microorganismos ao redor do mundo

Um estudo colaborativo internacional que reúne especialistas em genômica, análise de dados, engenharia, epidemiologia e saúde pública pretende mapear o microbioma (variedade e quantidade de bactérias, fungos, vírus e outros microorganismos) em áreas urbanas de mais de 50 cidades ao redor do mundo, dentre elas São Paulo, Rio de Janeiro e Ribeirão Preto. Batizado como MetaSUB – sigla em inglês para perfil metagenômico nos metrôs e biomas urbanos – o projeto, disponível emwww.metasub.org, foi idealizado pelo professor do Departamento de Fisiologia e Biofísica da Cornell University, dos Estados Unidos, Christopher Mason. O Brasil participa por meio de três grupos – dois no Estado de São Paulo (Ribeirão Preto e São Paulo) e outro no Rio de Janeiro – liderados, respectivamente, pelos pesquisadores Houtan Noushmehr (USP, campus Ribeirão Preto), Emmanuel Dias-Neto (A.C.Camargo Cancer Center) e Milton Ozório Moraes (Fiocruz).

A coleta das amostras é feita por meio de um swab, que é essencialmente uma haste flexível que contém material sintético capaz de absorver e reter amostras em sua ponta. Com esse swab, os pesquisadores pincelam corrimões, barras, catracas, balcões, bancos e outras superfícies. As amostras coletadas são transportadas para análise em laboratório, onde é feita a extração de DNA e o sequenciamento genético (leitura do DNA), que permite identificar todos os microorganismos e seres vivos cujos traços podem ser identificados, incluindo insetos e restos alimentares e plantas.

Uma aplicação óbvia da tecnologia, explica Dias-Neto, é a identificação de microorganismos de relevância médica, cuja identificação em meios urbanos possa ter impacto local e possibilite ações que venham a prevenir a dispersão de doenças. Do mesmo modo, aplicações futuras podem levar a alterações nos materiais  usados na construção de espaços públicos que sejam menos favoráveis à colonização por certos microorganismos.

APLICAÇÃO NO CÂNCER – O estudo do microbioma, conforme explica o biólogo Emmanuel Dias-Neto, é uma nova área de pesquisa que tem diversas implicações em medicina e saúde. Em câncer, tem sido demonstrado que os microorganismos ajudam a modular inflamações e o sistema imunológico, aspecto que parece auxiliar na resposta terapêutica. A importância da interação com este consórcio, como ressalta Emmanuel, se dá na troca de experiências e no desenvolvimento de abordagens que permitem analisar simultaneamente uma população complexa de microorganismos.

“Acreditamos que teremos importantes respostas sobre o papel da diversidade do microbioma no processo de carcinogênese, ampliando assim as perspectivas para o uso de bactérias benéficas (probióticos) e para o desenvolvimento de terapias personalizadas, além de nortear possíveis estratégias de prevenção e vigilância de saúde para a população”, afirma.

OLIMPIOMA – Uma das etapas do MetaSUB consiste em uma ampla varredura da biologia e trânsito de assinaturas metagenômicas da cidade do Rio de Janeiro antes, durante e que seguem agora no pós Jogos Olímpicos, principal evento esportivo do mundo. Está sendo avaliado como se dá o impacto de uma grande migração de pessoas, oriundas de quase todas as nações do planeta, durante um determinado espaço de tempo. “Foi o primeiro evento mundial com grandes massas populacionais se deslocando. Estamos avaliando como os microorganismos são transportados com estas pessoas e como eles podem perdurar de algum modo na cidade sede, levando assim a relevantes consequências no contexto de saúde pública local”, destaca Dias-Neto. O objetivo é repetir a avaliação em Tóquio, cidade escolhida para sediar a Olimpíada de 2020. Os primeiros resultados da análise das amostras da Rio 2017 serão divulgados em 2017.

ALGUNS RESULTADOS – Recentemente foi publicado (online no dia 28 de junho) na revista científica mSystems, da American Society for Microbiology –http://msystems.asm.org/content/1/3/e00018-16 – um estudo que realizou o mapeamento microbiano de alta precisão em diferentes superfícies e análise de patogenicidade (capacidade desses agentes, estando instalados no corpo humano, de levar a sintomas e doenças), em um ambiente de circulação em massa. No estudo, liderado por pesquisadores da Harvard T.H. Chan School of Public HealthBroad InstituteUniversity of Oregon, realizou-se o sequenciamento metagenômico dos micróbios coletados, em diferentes superfícies, em linhas de metrô e outras áreas de transporte metropolitano da cidade de Boston.

De acordo com os autores, a caracterização dos perfis microbianos será fundamental para a compreensão dos mecanismos que tornam determinados genes e patógenos resistentes aos antibióticos, abrindo caminho para o desenvolvimento de novos medicamentos mais eficazes contra estes agentes, além de poder antecipar possíveis epidemias, norteando a adoção de medidas preventivas, uso mais racional dos espaços públicos e preservação da saúde na presença de reservatórios microbiais. Em 2015, um estudo multicêntrico publicado na revista Cell Systems –http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26594662 – apontou que eram desconhecidos quase metade (48,3%) das bactérias e outros organismos coletados no sistema de metrô, parques e outras áreas públicas da área metropolitana de Nova Iorque. Esse dado sinalizou que a análise do microbioma em ambientes urbanos é uma área vasta a ser explorada.

A pesquisa, liderada por Christopher Mason, teve o objetivo de analisar o DNA presente em uma região urbana com um trânsito diário de mais de 5 milhões de pessoas. As amostras foram recolhidas ao longo de 17 meses. Segundo os autores, foram encontradas centenas de bactérias, a maioria delas inofensivas para o ser humano, mas algumas sendo associadas com problemas digestivos, infecções por estafilococo e meningite. 

Fonte: A.C.Camargo Cancer Center

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