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A.C.Camargo Cancer Center cria grupo de Imuno-Oncologia

Nos últimos 20 anos, o A.C.Camargo Cancer Center desenvolveu uma forte atuação na pesquisa científica translacional em oncologia com foco em genômica, patologia molecular e biologia molecular e celular. A sinergia entre a pesquisa básica e a prática clínica permitiu ao A.C.Camargo ser protagonista de inovações que contribuíram para a consolidação de protocolos de diagnóstico e tratamento mais eficazes contra o câncer.

Como parte dessa estratégia, anuncia a criação de um novo grupo de pesquisa em imunologia. Para liderá-lo, chega à Instituição o imunologista Kenneth Gollob, americano radicado no Brasil há 20 anos. O grupo de Imuno-Oncologia Translacional vai atuar na busca por respostas para um dos principais desafios dos cientistas que trabalham com a pesquisa do câncer: descobrir novas alternativas individualizadas de tratamento para incentivar o sistema de defesa do corpo humano a destruir as células tumorais, com efeitos colaterais reduzidos. “Neste contexto, o novo grupo vai atuar em uma área promissora e de grande relevância para o futuro da oncologia, o que vai contribuir ainda mais para ampliar a nossa produção científica e para reforçar o nosso papel como um Cancer Center, onde a pesquisa está totalmente integrada à assistência, em benefício do paciente”, afirma Vilma Martins, Superintendente de Pesquisa.

Segundo Gollob, a cultura de pesquisa já existente no A.C.Camargo, a facilidade de interação com outros grupos que atuam na área de pesquisa e na assistência da Instituição, além da forte experiência já instalada em imunoterapia, com o desenvolvimento de diversos estudos clínicos nos últimos anos vão contribuir significativamente para a evolução desse trabalho. O pesquisador também reforça o potencial do Biobanco do A.C.Camargo, o primeiro da América Latina, e o fato de ser uma “sister institution” do MD Anderson Cancer Center, o que possibilita ampliar a colaboração em pesquisa com mais de 50 instituições renomadas de câncer do mundo. O cientista já tem colaborações em andamento com a Stanford University e o National Institutes of Health (NIH), nos EUA, e a University of Cambridge, na Inglaterra. “Pretendemos evoluir ainda mais nas descobertas que vão trazer novas possibilidades terapêuticas aos pacientes, ao identificar mecanismos moleculares para evitar falhas de resposta do sistema imune e controlar eventuais efeitos colaterais do tratamento”, explica Gollob.

A imunoterapia já está mudando a abordagem do tratamento oncológico. Seu conceito estabelece o uso da própria resposta imune do paciente para combater a doença, por meio de proteínas presentes nas células tumorais que podem ativar o sistema imune e destruir essas células. Duas décadas atrás, estudos pioneiros de James Allison, hoje no MD Anderson Cancer Center, em Houston, mostraram que células T do sistema imune apresentam uma molécula inibitória (CTLA-4) que impede sua ativação e reconhecimento da célula tumoral. Anticorpos contra esta molécula podem reverter a atividade inibitória e permitir que as células T passem a reconhecer a célula tumoral.

É possível, também, aumentar o reconhecimento da célula tumoral pelo sistema imune por meio de outras abordagens imunológicas. Entre elas o uso de anticorpos contra proteínas presentes em células tumorais; a ativação de células T de pacientes no laboratório e sua devolução, em seguida, ao paciente; e a ativação de células T usando células do sistema imune para apresentar antígenos do tumor, como um tipo de vacina. O uso de anticorpos que bloqueiam as moléculas que impedem que o sistema imune reconheça e destrua a célula tumoral, como PD-1 e PD-L1, também têm promovido grande avanço na Imunoterapia.

Essa coleção de abordagens mostrou resultados surpreendentemente positivos nos últimos anos, sendo que entre 10 e 35% dos pacientes com tumores sólidos, como melanoma, câncer de pulmão e de ovário respondem bem a esses tratamentos. Em uma abordagem mais recente, a Imunoterapia envolveu a criação de novos receptores em células T (terapia CAR-T) com capacidade de atacar diretamente células tumorais e taxa de sucesso de quase 90% em um tipo específico de leucemia.

O grupo também conta com a atuação do oncologista clínico do Departamento de Oncologia Clínica do A.C.Camargo, Vladmir Cordeiro de Lima. “É fundamental para compor o nosso grupo termos profissionais médicos que atuam no cuidado ao paciente e também no desenvolvimento de pesquisas, para buscar respostas às indagações clínicas que afetam diretamente o paciente com câncer”, explica Vilma.

Sobre os pesquisadores

Kenneth Gollob é biomédico, PhD em Imunologia pela University Of Colorado Medical Center, e pós-doutorado pelo DNAX Research Institute e pela Stanford University School of Medicine, nos EUA. Tem mais de 20 anos de expertise na área. No Brasil passou pelo Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pelo Grupo Santa Casa de Belo Horizonte e Instituto Mário Penna. Assume, agora, o Grupo de Imuno-Oncologia Translacional do A.C.Camargo Cancer Center.

Vladmir Cordeiro de Lima é oncologista clínico e titular do Departamento de Oncologia Clínica do A.C.Camargo Cancer Center, onde fez residência médica, doutorado e atua há 15 anos, com experiência em imunologia. Pesquisa a interação entre a resposta inflamatória e imune com o tumor e sua aplicação como biomarcador em cânceres de mama, pulmão e mesotelioma pleural, áreas nas quais realiza ensaios clínicos para o tratamento de pacientes da oncologia clínica, além dos linfomas.

A PESQUISA DO CÂNCER ESTÁ NA CULTURA DA INSTITUIÇÃO – Desde sua inauguração em 1953, o A.C.CamargoCancer Center trazia na visão privilegiada de seu fundador Antônio Prudente, médico e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), a preocupação de unir a excelência na assistência ao câncer com a formação de especialistas e o desenvolvimento da ciência voltada à busca da cura da doença.

Naquela época, Prudente trouxe de volta ao país médicos brasileiros que se destacavam no exercício da oncologia emergente em instituições dos Estados Unidos e Europa e já integravam a prática clínica à observação científica. Em meio às dificuldades naturais do exercício da boa medicina e da ciência no Brasil, começou-se a organizar na Instituição a estrutura e os conceitos necessários para o desenvolvimento da pesquisa, com resultados logo reconhecidos internacionalmente.

Mas foi nos anos 80, com a parceria com o Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, então sob direção do cientista Ricardo Brentani, Professor Titular de Oncologia da USP, que o A.C.Camargo Cancer Center deu passos firmes rumo à liderança nacional em pesquisa ao fomentar a aproximação da ciência básica e molecular da pesquisa clínica intensificando a já existente cultura do fazer científico.

O salto seguinte – a liderança no Projeto Genoma do Câncer ao lado do Instituto Ludwig e com apoio da Fapesp – projeta a Instituição no cenário internacional. A partir daí sua produção científica ganhou uma robustez inédita no país e, integrada à formação de Mestres e Doutores em sua pós-graduação stricto sensu reconhecida pela CAPES, organiza em 2007 grupos de cientistas que estão estruturados num edifício dedicado a atividade de pesquisa institucional desde 2010, o Centro Internacional de Pesquisa – CIPE.

CONTRIBUIÇÕES PARA O NOVO CENÁRIO DA ONCOLOGIA
A origem de uma destas contribuições veio da Alemanha, por meio da descoberta da associação direta dos tipos 16 e 18 do vírus HPV com o desenvolvimento de câncer de colo do útero feita pelo virologista Harald zur Hausen.

O especialista, Nobel de Medicina em 2008, abriu caminho para que o Brasil, por meio da parceria entre A.C.Camargo Cancer Center e o Instituto Ludwig, fosse destaque no desenvolvimento da vacina anti-HPV. O trabalho liderado pela cientista Luísa Lina Villa foi o braço brasileiro do desenvolvimento da vacina contra o vírus HPV. A vacina oferece imunização contra os mais prevalentes HPVs oncogênicos relacionados à tumores de colo do útero, garganta, pênis e ânus.

Nos anos 70, o cirurgião oncologista e então diretor de Cirurgia Pélvica do A.C.Camargo Cancer Center, Fernando Gentil, protagonizou o surgimento de uma nova era na cirurgia oncológica, a das cirurgias conservadoras. Por mais de sete décadas, o tratamento padrão de pacientes com câncer de mama era a mastectomia radical, técnica criada por Willian S. Halsted, que consistia na mastectomia radical (retirada total da mama, dos músculos peitorais e dos linfáticos da axila), trazendo sequelas estéticas e funcionais significativas para as pacientes.

Gentil ousou ao fazer naquela época uma cirurgia conservadora, que consistia na remoção da glândula mamária, preservando-se o complexo areolo-mamilar e possibilitando a reconstrução imediata com próteses. Ao longo da carreira, Fernando Gentil registrou mais de 400 casos de cirurgia conservadora para o câncer de mama, sendo que os primeiros 60 casos foram publicados em 1980 no Journal of Surgical Oncology: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/jso.2930140211/abstract.

Ainda no âmbito da cirurgia, o A.C.Camargo Cancer Center é pioneiro no país e com uma das maiores casuísticas no mundo na realização da citorredução associada à quimioterapia intraperitoneal hipertérmica. A técnica consiste em remover todo o tumor visível no peritôneo, membrana que reveste internamente o abdômen. A doença remanescente é exposta a uma alta temperatura, aumentando a permeabilidade das células neoplásicas para a entrada do quimioterápico. Além disso, vantagem desse método, se comparado à quimioterapia endovenosa (na veia), é que se obtém maior concentração da droga na cavidade peritoneal.

Outra contribuição de destaque foi o estabelecimento de uma nova conduta padrão (protocolo) de tratamento de tumor de Wilms (o tumor renal mais comum em crianças). O feito foi liderado pela então diretora de Pediatria da Instituição, Beatriz de Camargo. Ao se comparar a eficácia da substância actinomicina quando administrada em doses fracionadas (cinco frações) ou em dose única, comprovou-se que não havia diferença significativa nos dois casos. Isso indicou a possibilidade, logo consagrada em nível internacional, de se diminuir drasticamente o número de visitas hospitalares. Desta forma, a principal vantagem foi o alívio no sofrimento dos pacientes pediátricos que, em vez de se submeterem ao desgaste de cinco sessões de quimioterapia, passaram a receber apenas uma.

DECIFRAR O CÂNCER E TRATAR PACIENTE A PACIENTE
Com infraestrutura robusta, o Centro Internacional de Pesquisa – CIPE dispõe de uma sede de 4 mil m² no Edifício Prof. Dr. Ricardo Renzo Brentani, próximo à sede da Instituição, com laboratórios que contam com equipamentos de última geração. Ali os cientistas desenvolvem atividades de pesquisa básica-translacional – que leva o conhecimento científico aos ambulatórios, centros cirúrgicos e ao leito do paciente – em conjunto com o corpo clínico e assistencial.

Organizado em grupos de pesquisa integrados à equipe de especialistas da Instituição, o CIPE atrai convênios com instituições internacionais de referência, conduzindo inúmeros projetos de vanguarda nas áreas de biologia celular e molecular, patologia molecular e genética e genômica do câncer.

PESQUISA BÁSICA, TRANSLACIONAL E CLÍNICA
Com o foco em ampliar o entendimento sobre os mecanismos associados aos processos tumorais , assim como em promover inovação por meio de diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes, personalizados e que proporcionam melhor qualidade de vida aos pacientes com câncer, o A.C.Camargo Cancer Center atua nas áreas de pesquisa básica, translacional e clínica.

Além de parcerias e acordos de colaboração com os principais centros oncológicos e acadêmicos internacionais, as pesquisas contam com o fomento da FAPESP, do CNPq, de programas governamentais como o PRONON.

A atuação em Pesquisa Básica ocorre por diferentes grupos de cientistas que trabalham em laboratórios estudando tecidos tumorais, células, moléculas e microorganismos (vírus, bactérias, entre outros), com o objetivo de entender os mecanismos e vias pelos quais os tumores surgem, progridem e disseminam (metástases), identificando assim, por exemplo, potenciais biomarcadores de diagnóstico, de prognóstico e de resposta ao tratamento.

Esse conhecimento adquirido na Pesquisa Básica pode ser transferido para a prática clínica, consolidando assim a chamada Pesquisa Translacional, que consiste na utilização do conhecimento molecular dos mecanismos relacionados ao processo tumoral para resolver problemas reais da rotina clínica.

Já a Pesquisa Clínica consiste nos estudos que podem ter parceria da indústria farmacêutica e são conduzidos com pacientes que investigam, por exemplo, novas medicações, técnicas cirúrgicas e procedimentos. Os estudos clínicos são conduzidos em três e/ou quatro fases, onde se testa a toxicidade em humanos (fase 1), a segurança e a eficiência em alguns casos (fase 2), a eficácia comparada ao que já existe de padrão (fase 3) e na fase 4 seguem-se os estudos com grandes populações quando os tratamentos já estão disponíveis comercialmente. “O cumprimento desse rito, apesar de longo e rigoroso, é essencial para que se leve as descobertas científicas ao paciente promovendo a melhor Medicina, que é a alicerçada por protocolos baseados em evidência cientifica”, avalia Vilma Martins.

LINHAS DE PESQUISA
O A.C.Camargo Cancer Center vai aumentar as atividades em linhas de pesquisa translacionais ligadas ao estudo dos carcinomas de cabeça e pescoço, tumores de rim e estômago, sarcomas de partes moles, tumores raríssimos e também os cânceres hereditários. “Os esforços multidisciplinares nessas linhas de pesquisa trazem implicações diretas na melhoria da assistência ao paciente”, avalia Vilma Regina Martins, cientista e Superintendente de Pesquisa da Instituição.

Para ela a nova abordagem significa aumentar a relevância internacional da Instituição, uma vez que estes estudos deverão ser referência global no tratamento destes tumores. A decisão foi amadurecida ao longo de 2016 por meio do planejamento estratégico e da indicação conjunta de um comitê de pesquisa institucional (formado por médicos e cientistas) que levou em conta o estado da arte de informações epidemiológicas, moleculares e clínicas; da relevância destas doenças no Brasil e da expertise instalada no A.C.Camargo.

Em 2016, o A.C.Camargo publicou 183 artigos em revistas internacionais indexadas e conduziu 29 estudos clínicos. As diretrizes de pesquisa para os próximos anos incluem atrair e reter talentos; manter a estruturação de seu banco de dados e, desta forma, atender a todas as demandas de pesquisa; promover a formação de consórcios nacionais e internacionais nas linhas prioritárias, ampliar e diversificar as fontes de financiamento e otimizar a gestão dos recursos financeiros à luz das prioridades estratégicas de pesquisa.

Para o cumprimento desses objetivos o A.C.Camargo Cancer Center intensificará a integração da Pesquisa com a Assistência por meio do estímulo não só de projetos com participação de cientistas, cirurgiões oncologistas, radioterapeutas, radiologistas e oncologistas clínicos como também que reúnam uma expertise multiprofissional, que inclui as participações de audiologistas, otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos, nutricionistas, estomatologistas, psicólogos, enfermeiros, dentre outros.

A Instituição vai também aprimorar a geração de conhecimento epidemiológico, promover estudos clínicos patrocinados e institucionais e estudos relacionados à qualidade de vida e aspectos psicossociais do paciente, provendo conhecimento para melhoria contínua da qualidade da Assistência. Há ainda uma atividade essencial que fomenta a inovação por meio do desenvolvimento de produtos a partir da geração de patentes.

“Além das atividades assistenciais, somos um centro de pesquisas reconhecido internacionalmente pela excelência técnico-científica e pela relevância e aplicabilidade clínica de suas contribuições”, destaca Vivien Rosso, Superintendente Geral do A.C.Camargo Cancer Center.

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