Doenças coronárias são tema do Café da Manhã Anahp

Até metade do século passado, as doenças coronárias, e o infarto especificamente, não eram muito conhecidas, apesar de tirarem a vida de mulheres e homens, principalmente, na maioria entre 45 e 60 anos, com uma das maiores taxas de mortalidade entre todas as conhecidas pelo homem – mais de 30% morriam ainda no hospital, sem contar os que faleciam antes de chegar à emergência e os de sequelas durante o primeiro ano.

Apesar de a cardiologia ser uma das especialidades médicas mais avançadas e revolucionárias, suas descobertas são relativamente recentes.  A primeira descrição da Angina Pectoris, ou dor no peito em latim, é de 1812, explicou Rafael Cavalcante, Doutor em Cardiologia pela Universidade de São Paulo (USP) e Diretor Médico da Boston Scientific do Brasil, apoiadora do último Café da Manhã Anahp, realizado na terça-feira (01).

“A parte clínica já era conhecida, mas o que causava [o infarto] até metade do século passado não”, explicou o médico. “O tratamento era feito de forma muito artesanal: no início do século XX era repouso e reza. Morfina já era utilizada para dor, mas tratamento para os mecanismos não existia.”

História
Foi Samuel Levine, em 1929, quem identificou as arritmias como principal causa de mortalidade. “Como não existia monitoração cardíaca, ele colocava um enfermeiro do lado com o estetoscópio tentando ouvir as arritmias”, contou Rafael. Em 1950, foi a vez de Tinsley Harrison perceber a importância do oxigênio, da nitroglicerina e dos anticoagulantes no combate à trombose do músculo coronário, ferramentas fundamentais.

Em 1961 começaram outras revoluções para a cardiologia. Foram criadas as primeiras unidades coronarianas, e foram descobertos o papel da massagem cardíaca externa (sem necessidade da perigosíssima massagem cardíaca com abertura do peito) e da desfibrilação. Com isso se conseguiu a maior redução da taxa mortalidade já obtida, caindo de 30% para 15%.

No mesmo ano o Instituto Nacional do Coração nos EUA, que iniciara estudos demográficos em Framingham, Massachussets, reportou que a hipertensão arterial e a elevação do colesterol sanguíneo são fatores de risco para doenças coronárias. Mesmo nos pacientes sem diagnósticos coronários prévios, o risco de morte aumenta com os dois fatores.

“Este conjunto de descobertas que se deu da primeira para a segunda parte do século XX levantou um véu sobre as causas e mecanismos da doença coronariana”, contou Rafael. Outros avanços importantes, como a cateterização cardíaca (descoberta em 1929 pelo alemão Werner Forssmann), e da coronariografia (em 1958, por Mason Sones, da Cleveland Clinic) também foram fundamentais. Em 1968, o argentino Rene Favaloro, também da Cleveland Clinic, deu um salto com o desenvolvimento da Ponte de safena, e o alemão Andreas Fruentzig, em 1977, criou a angioplastia coronária e revolucionou a hemodinâmica ao difundir a técnica mundialmente.

Década de 80 a cardiologia foi responsável por grandes estudos clínicos, com milhares de pacientes, e descobriu o efeito positivo de drogas como a aspirina para quebra dos trombos, ou coágulos.

Modernidade
O stent coronário foi testado pela primeira vez em 1987, pelo médico brasileiro Eduardo Sousa, e resolveu o maior problema do balão usado em angioplastias, a saber, o retorno do trombo. “Os stents farmacológicos são a pedra fundamental da cardiologia atual”, contou Rafael. “A cardiologia vive sua quarta era, a dos stents totalmente absorvíveis. O primeiro está enfrentando uma série de problemas, mas esta vai ser sem dúvida a evolução do tratamento da doença coronária nos próximos anos.”

Atualmente a taxa de mortalidade para doenças coronárias caiu de forma expressiva, chegando a 7%. Ainda assim, e apesar dos avanços tecnológico, as doenças cardiovasculares continuam sendo uma das maiores causas de mortalidade.

“O Brasil deixou de ser um país de doenças parasitárias e fome e passou para as obesidade e doenças cardiovasculares. Passamos a ser um país de pobres obesos. Em SP 33% das mortes são causadas por doenças cardiovasculares”, disse.

Os desafios para mudança desse quadro passam por educação na hora de reagir a um problema agudo, ou seja, fazer com que as pessoas não esperem os sintomas em casa e vão logo para um hospital; e por prevenção, com hábitos alimentares saudáveis e atividades físicas.

Do ponto de vista clínico, novos remédios que reduzem de forma drástica o colesterol já estão no mercado, embora ainda sejam muito caros e estejam em fase inicial de uso. De outro lado, técnicas com ultrassom permitem identificar artérias vulneráveis e tratar de forma preventiva com stents, antes que o infarto ocorra.

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